Especialistas defendem criação de políticas de saúde para enfrentar a dor crónica

Especialistas defendem criação de políticas de saúde para enfrentar a dor crónica

Mais de um terço da população adulta em Portugal (36,7%) vive com dor crónica, uma condição que permanece subvalorizada nas políticas nacionais de saúde.

Imagem actual: cartaz campanha sip

O alerta é lançado pela SIP Portugal (Societal Impact of Pain), plataforma que reúne associações de doentes, profissionais de saúde e entidades da sociedade civil, no âmbito da campanha nacional “Juntos pela mudança!” Unidos para dar voz a quem vive com dor crónica”, promovida para assinalar o Dia Nacional de Luta Contra a Dor.

Segundo a SIP Portugal, apesar da sua magnitude e impacto transversal, a dor crónica ainda não é reconhecida como prioridade nas estratégias nacionais de saúde. A organização defende a criação de um Plano Nacional para a Dor, atualizado regularmente e enquadrado numa estratégia de saúde pública, que inclua indicadores de qualidade, monitorização contínua e acesso equitativo aos cuidados, pode ler-se num comunicado partilhado pela organização.

“A dor crónica não pode continuar a ser invisível. É essencial aumentar a consciencialização pública e garantir respostas adequadas e sustentadas. “Precisamos de unir esforços e dar visibilidade a esta realidade, mobilizando todos os setores da sociedade para que ninguém que vive com dor fique para trás.”
Comité Executivo da SIP Portugal

Entre as medidas prioritárias está o reconhecimento da dor crónica como entidade clínica autónoma, já incluída na 11.ª revisão da Classificação Internacional de Doenças (ICD-11) da Organização Mundial da Saúde. Este enquadramento é crucial para uniformizar diagnósticos, monitorizar dados epidemiológicos e planear políticas públicas eficazes.

A dor crónica afeta sobretudo mulheres, idosos, pessoas reformadas ou desempregadas e está frequentemente associada a doenças musculoesqueléticas, reumatológicas e neurológicas. Além do sofrimento físico, tem impacto profundo na saúde mental, na vida familiar e na capacidade funcional, refletindo-se também em custos económicos e laborais elevados.

Estudos europeus indicam que metade dos trabalhadores com dor crónica abandona o emprego, e cerca de 40% dos que continuam ativos não dispõem de adaptações laborais adequadas. Paralelamente, é comum a associação com ansiedade, depressão e sofrimento psicológico, agravando o ciclo de dor e exclusão social.

A SIP Portugal tem vindo a dialogar com decisores políticos e instituições de saúde, incluindo a Comissão Parlamentar de Saúde, para reforçar a urgência de políticas estruturadas e integradas. A organização sublinha que Portugal precisa de alinhar-se com as recomendações internacionais e garantir o direito fundamental ao alívio da dor, um pilar essencial da dignidade humana e da justiça em saúde.

Mais informações sobre a campanha em https://sip-pt.pt/.