Com projetos inovadores nas áreas da neurociência e do envelhecimento celular, ambos os investigadores “pretendem dar novos passos no conhecimento sobre a doença de Parkinson e os mecanismos moleculares do envelhecimento”, pode ler-se no site da UC.

Na prática, o médico neurologista Diogo Reis Carneiro, investigador no Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS), no Centro de Neurociências e Biologia Celular da UC (CNC-UC) e no Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia (CiBB), vai desenvolver o projeto CaInPark – Interocepção cardiovascular: dos fundamentos neuroanatómicos à disrupção na doença de Parkinson.

O estudo explora o conceito de interocepção – a perceção fisiológica e psicológica dos estados internos do corpo, como o batimento cardíaco ou o enchimento da bexiga – para compreender como este processo se altera na doença de Parkinson.

“A interocepção cardiovascular poderá ser um marcador fisiológico e neural promissor da interação corpo-cérebro, por isso, neste projeto pretendemos aprofundar a compreensão da interocepção cardiovascular, caracterizando a sua base neurofuncional em indivíduos saudáveis e investigando as suas alterações em indivíduos com doença de Parkinson, aspetos que continuam a ser pouco conhecidos”, explica Diogo Reis Carneiro.

O investigador acrescenta que o projeto pretende “alargar o conhecimento sobre a disfunção interoceptiva na doença de Parkinson e relacioná-la à disfunção autonómica”, mas também abrir caminho a novas abordagens terapêuticas, uma que vez “antevemos a possibilidade de lançar bases de conhecimento para que, no futuro, tratamentos de modulação interoceptiva possam ser utilizados, com substrato científico, numa população para a qual existem ainda muitas lacunas terapêuticas.”

O projeto CaInPark será financiado com 25 mil euros e parte da investigação será desenvolvida na Universidade Médica de Innsbruck, na Áustria.

Por sua vez, a investigadora Neuza Domingues, do Instituto Multidisciplinar do Envelhecimento (MIA Portugal) e do CiBB, foi distinguida pelo projeto Lisossomas nucleares: desvendar a comunicação entre lisossomas e o núcleo, que vai explorar como os lisossomas – organelos responsáveis pela digestão e reciclagem celular – comunicam com o núcleo, onde se encontra a informação genética.

“Um dos organelos mais afetados durante o processo de envelhecimento celular é o lisossoma, que é essencial para a digestão de outros organelos e moléculas danificadas. Além desta capacidade de libertar as células de elementos tóxicos, o lisossoma modula vias de sinalização celulares, assim como a função e dinâmica de outros organelos”, explica Neuza Domingues.

Apesar do conhecimento acumulado sobre a interação dos lisossomas com mitocôndrias e retículo endoplasmático, a comunicação com o núcleo permanece pouco estudada.

“Neste contexto, este projeto tem como objetivo investigar os mecanismos moleculares que regulam os contactos entre a membrana do lisossoma e a membrana do núcleo, a nível molecular e funcional”, acrescenta a investigadora.

Neuza Domingues pretende demonstrar que a disfunção na comunicação entre lisossomas e núcleo está associada à instabilidade genómica, o que pode abrir novas vias terapêuticas.

“No futuro, a caracterização destas interações abrirá oportunidades terapêuticas para doenças do envelhecimento, desde a modulação da homeostasia até à entrega nuclear de agentes terapêuticos”, refere.

O projeto será financiado com 30 mil euros e parte da investigação decorrerá na Universidade de Oxford, no Reino Unido.

A cerimónia da 5.ª edição do Prémio Maria de Sousa decorre esta tarde, em Lisboa, e pode ser acompanhada em direto nas redes sociais da Fundação Bial.
Mais informações sobre o prémio estão disponíveis em www.fundacaobial.com/premios/premio-maria-de-sousa.