Implantação de embrião humano recriada em laboratório
Equipa internacional de investigadores conseguiu, pela primeira vez, reproduzir em laboratório o processo de implantação do embrião humano nos seus primeiros dias de desenvolvimento, uma fase determinante para o sucesso da gravidez e até agora impossível de observar fora do corpo humano.

O avanço científico, considerado histórico, foi publicado na revista Cell, uma das mais prestigiadas publicações científicas internacionais. O estudo, intitulado Modelling human embryo implantation in vitro, foi liderado por Francisco Domínguez, investigador da Fundação IVI, e por Matteo Molè, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos da América, envolvendo ainda cientistas de Espanha e do Reino Unido.
Segundo um comunicado partilhado com a imprensa, “o modelo desenvolvido permite recriar um endométrio humano tridimensional a partir de células da camada interna do útero”. Este ambiente artificial “mimetiza de forma altamente fiel as condições do útero humano, possibilitando a observação detalhada da implantação embrionária até ao 14.º dia de desenvolvimento, um marco nunca alcançado em contexto laboratorial”.
“Pela primeira vez, é possível estudar o desenvolvimento completo do embrião humano até ao 14.º dia utilizando um modelo que replica quase na perfeição o ambiente uterino.”
Francisco Domínguez, investigador da Fundação IVI
A implantação embrionária continua a ser uma das etapas mais críticas e menos compreendidas da gravidez e dos tratamentos de reprodução medicamente assistida. Este novo modelo abre perspetivas relevantes para compreender porque falha a implantação em determinadas mulheres e para desenvolver estratégias terapêuticas mais eficazes.
Segundo Francisco Domínguez, o sistema permitirá avançar para uma abordagem mais personalizada na medicina reprodutiva, já que será possível recriar o endométrio de cada pessoa a partir das suas próprias células. “Isto abre caminho a uma medicina reprodutiva mais precisa e ajustada a cada caso”, destaca o investigador.
Além disso, o modelo foi otimizado para poder ser replicado por laboratórios em todo o mundo, facilitando o desenvolvimento de novas linhas de investigação centradas nos primeiros dias da gravidez humana.
O estudo resulta de uma colaboração entre o IIS La Fe e a Fundação IVI, em Espanha, a Universidade de Stanford, nos Estados Unidos da América, e o Babraham Institute, no Reino Unido, refletindo a importância da cooperação internacional no avanço da ciência biomédica.
A equipa de investigação está agora a explorar novas aplicações do modelo, nomeadamente a análise de fatores moleculares envolvidos na implantação embrionária e o desenvolvimento de intervenções que possam aumentar as taxas de sucesso da gravidez em pessoas com dificuldades reprodutivas.
Para Catarina Godinho, ginecologista e subdiretora do IVI Lisboa, este avanço representa “um passo decisivo para aproximar a investigação científica da prática clínica”, com impacto direto no acompanhamento das mulheres com infertilidade, ao permitir o desenvolvimento de abordagens verdadeiramente centradas em cada caso.




