Farmácias no Reino Unido vão poder passar a prescrever medicamentos para as doenças mais comuns
O governo britânico anunciou que milhões de utentes vão poder levantar medicamentos simples – desde comprimidos para otites e gargantas inflamadas até à pílula feminina – diretamente das farmácias sem receita médica.
É a mais recente medida de combate à crise no sistema de saúde pública no Reino Unido. O governo britânico anunciou esta terça-feira, 9 de maio, que milhões de utentes vão poder levantar medicamentos simples – desde comprimidos para otites e gargantas inflamadas até à pílula feminina – diretamente das farmácias sem receita médica.
A medida pode começar a ser implementada em Inglaterra ainda este ano (mediante consulta com o setor) e visa reduzir a pressão sobre o sistema nacional de saúde do país, o NHS. Milhões de pessoas serão abrangidas pela medida que, estima-se, pode vir a abrir cerca de 15 milhões de vagas para consultas médicas nos hospitais britânicos nos próximos dois anos.
De acordo com a proposta, os farmacêuticos britânicos vão poder começar a receitar medicamentos para problemas de saúde comuns, que deixam de necessitar de prescrição por parte de um médico de família.
A esta medida acresce ainda um aumento no número de pessoas que podem requerer medições à tensão arterial (de 900 mil no ano passado para cerca de 2,5 milhões este ano). Passa também a ser permitido às farmácias passarem receita para contracetivos orais, numa medida que pode vir a beneficiar cerca de meio milhão de mulheres britânicas, que deixam de ter de consultar um médico ou enfermeiro numa unidade hospitalar.
Trata-se do segundo anúncio no mesmo número de dias destinado a combater a crise do NHS; já na segunda-feira, o governo de Rishi Sunak tinha anunciado medidas para facilitar a marcação através da internet de consultas de com médico de família, numa altura em que, só nos últimos cinco meses, cerca de 24 milhões de marcações aconteceram mais de duas semanas depois de terem sido requeridas pelos utentes. O pacote de medidas a longo-prazo será apoiado por Downing Street através de uma verba de 645 milhões de libras (quase 750 milhões de euros). O primeiro-ministro britânico apresentou as novas medidas como mais um passo para reduzir a pressão nos hospitais.
Transformar os cuidados primários é a próxima parte da promessa deste governo para diminuir as listas de espera no NHS. (…) Vamos acabar com a corrida aos hospitais às oito da manhã e expandir os serviços oferecidos pelas farmácias, o que quer dizer que os utentes vão poder obter a sua medicação rápida e eficazmente”.
No entanto, há quem questione a eficácia das medidas, com alguns especialistas a afirmarem que muitas farmácias não estão atualmente equipadas para fornecer os novos serviços, o que obrigará os utentes “a andar de um lado para o outro, apenas para acabar de volta nos cuidados gerais”.
A oposição ao atual governo também não está convencida pelas medidas que, defendem, não resolvem a questão de fundo: a necessidade de recrutar mais profissionais de saúde para o NHS. Ao The Guardian, o deputado do Partido Trabalhista Wes Streeting é contundente nas críticas: “Esperar que os conservadores resolvam a crise dos médicos de família é como esperar que um pirómano apague um incêndio que ele próprio começou”.
Desde 2015 que o número de médicos de família no país tem vindo a cair, havendo neste momento mais de 4000 vagas por preencher (um número que se prevê possa vir a aumentar para o dobro na próxima década).