Desafios e inovações no ecossistema farmacêutico: a visão dos partidos

Desafios e inovações no ecossistema farmacêutico: a visão dos partidos

A Associação Portuguesa de Jovens Farmacêuticos promoveu uma discussão importante sobre o ecossistema farmacêutico, entre diversos representantes políticos que puderam manifestar as suas propostas para o setor da saúde.

Foto: Micaela Neto

O ecossistema farmacêutico português encontra-se num momento importante de transformação e adaptação às novas realidades e desafios do século XXI. A intersecção entre inovação, tecnologia e saúde nunca foi tão pertinente, e o setor farmacêutico está na vanguarda dessa mudança, desempenhando um papel vital não apenas na saúde pública, mas também na economia do país.

O evento recente organizado pela Associação Portuguesa de Jovens Farmacêuticos (APJF) é um testemunho do papel ativo que os profissionais do setor desejam desempenhar neste processo de transformação. Ao reunir representantes dos vários partidos políticos, o evento sublinha a importância de um diálogo inclusivo e abrangente sobre o futuro da saúde em Portugal. Este é um momento propício para discutir como o ecossistema farmacêutico pode contribuir para um sistema de saúde mais eficiente, acessível e orientado para o futuro.

As expectativas são altas para que as diferentes forças políticas apresentem propostas que enderecem os desafios imediatos, mas também que olhem para o horizonte, antecipando as necessidades futuras da população.

O país conta com um sistema de saúde em crise, como alguns representantes dos diferentes partidos afirmam. Acrescentando que é necessário medidas urgentes, principalmente no que diz respeito às condições dos seus trabalhadores.

Algumas das medidas propostas pelos partidos da esquerda, dizem respeito às condições dignas dos profissionais, principalmente no que se refere à abertura de farmácias 24h. A representante do Livre, Inês Pires, fala de condições dignas, na desregulação dos horários dos profissionais, e da dificuldade enorme na conciliação com a vida pessoal.

Já Afonso Moreiro, do Bloco de Esquerda, defende mais contratação para uma maior capacidade de resposta, principalmente nos cuidados primários.

“… a resposta que nós pensamos para a saúde assenta essencialmente no reforço e na recuperação do Serviço Nacional de Saúde. (…) equipas de família, de saúde familiar a nivel local é essencial que seja garantido.” Afonso Moreira, Bloco de Esquerda

Joana Botas, do PCP salienta a reindustrialização do setor com produção nacional de medicamentos, como um laboratório público, como a solução para um dos maiores problemas do setor, a ruptura de medicamentos.

Miguel Rodrigues, do Partido Socialista, fala da importância das parcerias com a farmácia. Contudo, salienta a ineficácia da vacinação na gripe e covid nas farmácias. Este justifica este facto com as taxas de cobertura vacinal da populaçã,o que diminuíram após se terem retirado este processo dos centros de saúde. Salienta que isto é uma evidência. O moderador, Paulo Silva, questiona sobre outros serviços, como dispensa em proximidade, renovação terapêutica ou consulta farmacêutico e, Miguel Rodrigues, diz que sim, que considera que essas são áreas que têm lógica em integrar, dando destaque a medidas como a saúde mental e saúde oral.

Contudo, Maria Bonnevile pede seriedade aos colegas dos partidos da esquerda. Como representante da Iniciativa liberal recorda que o partido apresentou várias propostas na medida de integrar as farmácias na prestação de cuidados, como a monitorização de doenças crónicas e que os partidos da esquerda não aprovaram. Fala também do registo electrónico único, salientando que com boa vontade, a questão da Comissão Nacional de proteção de dados pode ser ultrapassada e que o Partido Socialista chumbou várias propostas da IL.

Nós fazemos política para melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Ana Paula Martins, Aliança Democrática

Ana Paula Martins, candidata a deputada pela Aliança Democrática, destaca de três pontos fundamentais na saúde, o acesso, a motivação dos profissionais e na criação de um espaço digital em saúde. Sublinhando que o SNS é essencialmente os seus profissionais, e são os seus profissionais que tem levado o SNS para a frente, justifica que infraestruturas e tecnologias não abonam.

Foto: Micaela Neto

Pedro Frazão, representante do Chega fala nos 3 apoios que o o Sistema Nacional de Saúde deve considerar: o apoio público, o apoio social e o apoio particular.

O CHEGA não quer privatizar o SNS (…), não quer destruir o SNS. (…) usar a capacidade instalada que existe no Sistema Nacional de Saúde, nomeadamente com as farmácias comunitárias, para que os portugueses tenham acesso à saúde.”

Pedro Frazão, CHEGA

A inovação farmacêutica, a digitalização da saúde e a sustentabilidade do sistema de saúde são temas que estão, ou deveriam estar, no centro das discussões. A capacidade de integrar novas tecnologias, de promover a investigação e desenvolvimento, e de assegurar o acesso equitativo a tratamentos inovadores são indicadores-chave da saúde do ecossistema farmacêutico e, por extensão, do bem-estar da população portuguesa.

Helder Mota Filipe, bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, não quis deixar de demonstrar a sua desilusão com os programa dos diversos partidos, apesar de ter manifestado a sua satisfação com a disponibilidade dos mesmos, para estarem neste evento promovido por jovens farmacêuticos.

(…) o setor farmacêutico não é apenas o setor assistencial, não é apenas as farmácias comunitárias, (…) farmácia hospitalar, as análises clínicas, muitas vezes esquecidas, e que são uma atividade importante do farmacêutico também. Mas é também os farmacêuticos na indústria, farmacêuticos na distribuição, farmacêuticos na investigação, farmacêuticos na avaliação de tecnologias de saúde (…) no apoio à decisão, na garatia do acesso. E vejo muito pouco nos programas partidários.

Helder Mota Filipe, Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos
Foto: Micaela Neto

Helder Mota Filipe ainda salientou o facto de que não existir uma estratégia para atrair investimento para o setor em Portugal.

Este é um momento de reflexão, mas também de ação. A colaboração entre os profissionais de saúde, a indústria farmacêutica, os decisores políticos e a sociedade civil é fundamental para desenhar um futuro em que o acesso à saúde de qualidade seja uma realidade para todos os portugueses. A discussão iniciada pela Associação Portuguesa de Jovens Farmacêuticos é um passo importante nesse sentido, oferecendo uma plataforma para a troca de ideias e a construção de consensos em torno de políticas de saúde mais inclusivas e inovadoras.

À medida que Portugal se prepara para decidir o próximo governo, o ecossistema farmacêutico tem a oportunidade de reafirmar o seu papel como pilar central da saúde e bem-estar da nação. Através de um diálogo construtivo e de propostas transformadoras, podemos assegurar que o sistema de saúde português continue a ser motivo de orgulho e um exemplo de inovação e cuidado para o mundo.