A APFPC aceitou o desafio da Salus Magazine com uma Mensagem para os Farmacêuticos

A APFPC aceitou o desafio da Salus Magazine com uma Mensagem para os Farmacêuticos

A Associação Portuguesa de Farmacêuticos para a Comunidade contou à Salus Magazine quais foram as conquistas e desafios que enfrentarem e deixaram uma mensagem para os colegas.

Direcção da Associação Portuguesa de Farmacêuticos para a Comunidade. Da esquerda para a direita: Bruno Guerreiro, Maria Sanches, Hugo Mendes, Ana Ferreira e Pedro Charneca.
Direcção da Associação Portuguesa de Farmacêuticos para a Comunidade. Da esquerda para a direita: Bruno Guerreiro, Maria Sanches, Hugo Mendes, Ana Ferreira e Pedro Charneca.

1. Como a APFPC avalia o desempenho e o impacto dos farmacêuticos de comunidade em Portugal durante o ano de 2023?

O ano de 2023 foi um ano desafiante para os farmacêuticos comunitários. Desde logo pela escassez de medicamentos, que condicionou muitas terapêuticas dos utentes e que, como é óbvio, recorriam aos seus farmacêuticos para tentar, de alguma forma, arranjar-lhe o medicamento ou uma alternativa, e onde muitas vezes os farmacêuticos se sentiram de pés e mãos atados por não haver mesmo alternativa ou por, pura e simplesmente, o sistema não lhes permitir fornecer uma alternativa diretamente à pessoa.

Desde o acesso ao medicamento, vacinação e Renovação da Terapêutica Crónico, foram alguns dos pontos salientados pela APFPC.

Tivemos também o desafio da vacinação sazonal contra a gripe e COVID-19 para maiores de 60 anos ao que os farmacêuticos comunitários deram uma resposta fantástica, apesar de todo o stress e ansiedade que rodeou esta campanha, atingindo muito rapidamente os objectivos de vacinação da DGS para esta campanha.

Por fim, tivemos o arranque da chamada Renovação da Terapêutica Crónica. Por estar ainda numa fase inicial não está completamente implementada, estando disponíveis apenas algumas das funcionalidades deste programa, como a consulta do histórico de prescrições e de dispensa, que apesar de serem muito úteis não permitem uma efetiva Renovação da Terapêutica se a pessoa não possuir uma receita válida para os seus medicamentos. Além disso, esta Renovação da Terapêutica Crónica teve direito a uma campanha publicitária com uma mensagem que criou expectativas erradas nas pessoas, pelo que acabei de referir. Mensagem e expectativas essas que os farmacêuticos tiveram de gerir e clarificar, ficando muitas vezes como os “maus da fita”, mentirosos ou mal-informados porque, como sabemos, se dá na televisão é porque é verdade.

Por tudo isto, considero que os farmacêuticos comunitários estiveram mais uma vez à altura dos desafios que lhes foram lançados, e contribuíram de forma muito positiva não só para a saúde e para a literacia em saúde das suas comunidades, como também para a sustentabilidade do sistema de saúde Português.

2. Quais foram as principais iniciativas ou projetos promovidos pela APFPC em 2023 para apoiar e fortalecer a atuação dos farmacêuticos de comunidade?

 A nossa iniciativa mais visível é sem dúvida o projecto “O Farmacêutico e o Doente”, onde procuramos apresentar as Associações de Doentes aos farmacêuticos e os farmacêuticos a estas associações. Este projecto contribui para a literacia em saúde de todos aqueles que participam, sejam os doentes, seus cuidadores ou pessoas interessadas mas também dos profissionais de saúde. Ficamos a conhecer a actividade destas associações, a forma como contribuem para a disseminação do conhecimento sobre as patologias e como apoiam as pessoas que vivem com doença nos desafios do seu dia a dia, ao mesmo tempo que discutimos o papel dos farmacêuticos na saúde destas pessoas, procurando descobrir como podemos fazer mais e melhor.

Para além disso, iniciámos esta ano também o nosso ciclo formativo, com formações de carácter mais pragmática e com uma verdadeira utilidade no exercício diário da profissão de farmacêutico junto da comunidade.

3. Como a prática dos farmacêuticos de comunidade evoluiu em 2023 em resposta às necessidades da população e às mudanças no sistema de saúde? Houve novas áreas de atuação ou serviços implementados?

Tivemos o inicio do programa de Renovação da Terapêutica Crónica, que apesar das suas fragilidades iniciais será um marco importante desde logo porque acarreta algo que os farmacêuticos há muito reclamam, que é um maior acesso a dados de saúde dos utentes.

“…exercer a profissão em consciência…”

Isto será importantíssimo para este serviço, mas também para que possamos finalmente exercer a profissão em consciência, tomando decisões terapêuticas verdadeiramente fundamentadas e justificadas, detetando interações, duplicações de terapêutica e situações de contra-indicação, conseguindo assim resolver e evitar muitos mais problemas relacionados com os medicamentos. Mesmo para a entrega de medicamentos em proximidade, que este ano também continuou a se expandir, será importante pela criação de canais de comunicação com os outros profissionais envolvidos no cuidado ao utente, seja o médico prescritor mas também com os colegas de farmácia hospitalar.

Pela boa resposta nesta campanha de vacinação sazonal contra a gripe e COVID-19, é também expectável que a vacinação nas farmácias seja alargada a outras vacinas, para além das campanhas de vacinação sazonal, nomeadamente vacinas incluídas no Plano Nacional de Vacinação.

Foi também já anunciada uma maior intervenção dos farmacêuticos em situações clínicas ligeiras, pela qual esperamos mais novidades durante este ano de 2024.

4. Quais foram os principais desafios enfrentados pelos farmacêuticos de comunidade em termos de prestação de cuidados de saúde à comunidade? Como a APFPC contribuiu para abordar esses desafios?

Sem dúvida que o principal foi a escassez de medicamentos, seguido pela campanha de vacinação. Nestes casos o papel da APFPC prendeu-se mais com os pareceres que deu e as participações em grupos de trabalho para a criação de normas orientadoras, bem como na divulgação das mesmas. É um trabalho de bastidores e de representatividade dos colegas que temos feito e para o qual temos sido frequentemente solicitados.

5. Pode compartilhar informações sobre a colaboração da APFPC com outras organizações de saúde e parceiros no setor farmacêutico em 2023? Houve colaborações estratégicas significativas?

Como referi, demos parecer e colaboramos na elaboração de várias normas, incluindo no processo de revisão dos estatutos da Ordem dos Farmacêuticos, e na criação de novas competências farmacêuticas também. Um exemplo em concreto, foi a colaboração na formação para Farmacêuticos Orientadores de Estágios da Secção do Sul e Regiões Autónomas da Ordem dos Farmacêuticos e, além disso, as nossas sessões e reuniões com várias Associações de Doentes, com a Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde, etc. Por tudo isso, sim, houve colaborações estratégicas muito significativas.

6. Como a APFPC apoiou o desenvolvimento profissional dos farmacêuticos de comunidade ao longo do último ano? Foram oferecidos programas de educação continuada ou eventos de networking?

Apoiámos com o inicio do nosso ciclo formativo com preços bastante acessíveis para os nossos sócios. Até ao momento realizámos 2 formações, uma dedicada à Saúde Animal e a outra à Segurança do Utente na Farmácia Comunitária, as quais vamos replicar em 2024 mas já temos mais formações preparadas para lançar ao longo do ano. Quanto aos eventos de networking, ainda não foi possível pelo esforço financeiro que implicam mas estamos a trabalhar no sentido de realizar alguns presenciais durante 2024.

7. Quais foram as principais metas e realizações da APFPC em termos de advocacia política e regulamentação em 2023? Houve avanços na defesa dos interesses dos farmacêuticos de comunidade?

Sim, houve avanços. A participação na vacinação contra a COVID-19, implicou acesso ao histórico vacinal dos utentes, se bem que de forma parcial. O inicio da Renovação da Terapêutica Crónica com acesso ao histórico de prescrições dos utentes, alteração à forma como os medicamentos são prescritos, com as posologias estruturadas, e a possibilidade de enviar notas terapêuticas aos prescritores (que ainda está a ser trabalhada) permitirá um canal de comunicação direto entre farmacêutico e outros profissionais de saúde que prestem cuidados ao utente.

“…medicação hospitalar em proximidade, que aproxima a realidade do farmacêutico comunitário e a do farmacêutico hospitalar…”

A entrega de medicação hospitalar em proximidade, que aproxima a realidade do farmacêutico comunitário e a do farmacêutico hospitalar, com maior interação e integração de cuidados. Todas estas medidas regulamentares foram positivas para a classe, porque implicaram um crescente acesso a dados de saúde, a melhores canais de comunicação e maior integração entre diferentes níveis de cuidados, o que eram reivindicações antigas dos farmacêuticos comunitárias. E, como já referi, a APFPC tomou parte não só como mais uma voz a advogar por estas alterações e necessidades, como participando e dando parecer sobre as normas e regulamentos entretanto aprovados, e noutros que ainda estão a ser desenvolvidos.

8. Olhando para o futuro, quais são as expectativas e prioridades da APFPC para o ano de 2024 em relação aos farmacêuticos de comunidade? Existem iniciativas ou objetivos específicos em mente?

No ano de 2024 queremos continuar a crescer em número de associados, continuar a representar os farmacêuticos comunitários e todos aqueles que exercem em contexto de proximidade, junto dos organismos relevantes. O nosso maior objectivo em 2024, para além do crescimento da Associação, é a realização dos eventos presenciais. Queremos estar fisicamente com os nossos colegas e em várias partes do país, ao longo deste ano, para estreitar laços e estabelecer conexões mais profundas, o que não é possível através do digital.

9. Como a APFPC planeia continuar promovendo a importância dos farmacêuticos de comunidade na assistência à saúde e no bem-estar da comunidade local?

Queremos continuar a nossa iniciativa “O Farmacêutico e o Doente” junto das Associações de Doentes, chegando a cada vez mais Associações e a cada vez mais pessoas. Acreditamos que esse é o caminho para aprofundar ainda mais a relação de proximidade que os farmacêuticos já têm com as suas comunidades. Através dessa aproximação às Associações de Doentes vamos compreender melhor os problemas dessas pessoas, e ao mesmo tempo garantir que essas pessoas compreendem o que é ser farmacêutico e aquilo que estes profissionais podem fazer pela sua saúde e bem-estar. E isso, sem dúvida, que irá valorizar o papel destes profissionais aos olhos destas pessoas.

De resto queremos continuar o nosso papel de representatividade, sendo uma voz na luta pelos interesses de todos os farmacêuticos.

10. Qual é a mensagem que a APFPC gostaria de transmitir aos farmacêuticos de comunidade em Portugal em relação ao próximo ano e ao seu compromisso contínuo com a profissão?

O ano 2024 vai ser mais um desafio que os farmacêuticos, comunitários ou não, vão ultrapassar de forma exemplar naquilo que depender deles e do seu trabalho, como sempre o têm feito. Obviamente que o que não depende desse trabalho é sempre uma incerteza, como a escassez de medicamentos, a inflação, o próximo ministro da saúde… Mas em termos de regulamentação o caminho trilhado em 2023 foi positivo e os anúncios já feitos para 2024 também. Esperamos que não haja nenhum retrocesso e que nos sejam fornecidas cada vez mais ferramentas para continuarmos o nosso desígnio da promoção da saúde e bem-estar das pessoas que procuram a nossa assistência e apoio. No que diz respeito à APFPC, estaremos sempre disponíveis não só para ser uma voz para todos os farmacêuticos a exercer em proximidade, como a dar apoio e suporte a todos os farmacêuticos que o queiram, seja pelas nossas formações e eventos, ou procurando apoiar e dinamizar iniciativas de valor dos nossos colegas. Um Feliz Ano Novo!