A Farmácia Comunitária, o Farmacêutico e a sua importância durante a Pandemia Covid-19
Artigo de Opinião de Natacha Vilanova, Farmacêutica e uma das Promotoras do Projeto “Fique em casa, Pergunte ao seu Farmacêutico!”
O papel do farmacêutico tem vindo a revelar-se determinante nas últimas duas décadas na área da Saúde Pública e para tal contribuiu a posição privilegiada que detém face à vasta rede de farmácias em Portugal.
Consultar um farmacêutico pode ter um impacto positivo na saúde das pessoas, pois os farmacêuticos são profissionais de saúde altamente treinados para fornecer orientações, aconselhamento e suporte em várias áreas relacionadas à saúde, sendo preponderantes em áreas como a gestão da terapêutica, administração de medicamentos, determinação de parâmetros, identificação de pessoas em risco, detecção precoce de diversas doenças e promoção de estilos de vida mais saudáveis.
Em muitas zonas do território nacional, as farmácias são a única estrutura de saúde disponível capaz de prestar cuidados de proximidade, sendo o farmacêutico o único profissional capaz de evitar deslocações desnecessárias a outros serviços de saúde perante transtornos de saúde menores, através da dispensa e aconselhamento sobre o uso correto de medicamentos não sujeitos a receita médica e medicamentos de venda exclusiva em farmácia.
Durante a pandemia de COVID-19, o papel dos farmacêuticos em Portugal, assim como em muitos outros países, foi fundamental para o sistema de saúde e para a população em geral, e com todos os serviços reduzidos, isolamentos e deslocações a evitar ao máximo, os farmacêuticos tinham de ajudar mais e mais.
Como?
Se por um lado a equipa das farmácias estava focada para não deixar nada faltar aos seus utentes, no que diz respeito ao circuito do medicamento, surgiram várias questões que eram colocadas ao telefone, e que por excesso de trabalho por vezes não podiam ser atendidas/ esclarecidas. E neste cenário desafiador para todos os profissionais de saúde, surgiu um projecto digital no Facebook: “Grupo Fique em Casa e Pergunte ao Farmacêutico”, criado pelo colega João Fernandes, que reuniu vários farmacêuticos seus conhecidos, e que teve muita importância na literacia para a saúde, pois foi responsável pelo aconselhamento na rede do Facebook, evitando a busca em fontes não seguras por parte dos utentes.
Como funcionava o grupo?
O funcionamento era simples: os membros colocavam publicações com as suas questões e/ou dúvidas sobre medicamentos, interacções e patologias, cuidados de saúde primários, etc., e os moderadores discutiam entre si, num chat privado, a melhor orientação e aconselhamento no caso, e posteriormente respondiam à publicação.
Este trabalho foi efectuado por vários farmacêuticos, grupo que me orgulho muito de ter pertencido, e que no seu tempo livre disponibilizaram um pouco de si, para ajudar a todos os que nos solicitavam ajuda.
Qual a importância deste grupo?
A relevância desse grupo transcendeu até ao momento presente, sendo constituído por 13205 membros.
As informações compartilhadas permanecem no grupo, beneficiando outros membros com dúvidas semelhantes, e contribuindo para uma melhoria do conhecimento dos utentes sobre suas próprias condições de saúde.
O aconselhamento farmacêutico estava lá, desde medidas não farmacológicas, medidas farmacológicas e referenciação médica caso não fosse das nossas competências.
Não somente foi fornecida informação, mas também foram actualizadas as directrizes da Direcção Geral da Saúde (DGS) da época, facilitando o acesso à informação precisa na internet.
Além disso, foram criadas várias infografias, que foram compartilhados para orientar os cidadãos sobre cuidados apropriados para diferentes patologias. O objetivo era sempre manter as informações actualizadas e confiáveis, evitando que as pessoas procurassem informações em fontes duvidosas na internet.
Esse esforço colectivo permitiu a disseminação de informações corretas e confiáveis, essenciais para a promoção da literacia em saúde.
Foi um projecto muito querido a nível pessoal para mim, pois fez-me compreender que o papel do farmacêutico é muito preponderante na sociedade, e cabe a cada um de nós, fazer pela valorização do farmacêutico na sociedade. Levámos o valor do farmacêutico mais longe!
E agora o que o futuro nos reserva?
À medida que olhamos para o futuro, fica claro que o papel dos farmacêuticos continuará a evoluir.
O projecto “Grupo Fique em Casa e Pergunte ao Farmacêutico” não apenas demonstrou a dedicação dos farmacêuticos à saúde pública, mas também ilustrou como eles podem desempenhar um papel fundamental na educação em saúde e na promoção de práticas de saúde adequadas.
Assim, além das funções tradicionais, os farmacêuticos estão a explorar novas oportunidades na era da telemedicina e da saúde digital, como aconselhamentos virtuais, aconselhamento/monitorização remoto de utentes.
Um futuro complexo pela frente mas desafiador!