Acne adulta – uma nova epidemia entre as mulheres?
Artigo de opinião de Ana Barros, farmacêutica especialista em dermocosmética e fundadora do projeto Pele Bem Formada

A acne adulta é um problema que afeta cada vez mais mulheres na idade adulta. A acne adulta é caracterizada pela acne que surge a partir dos 25 anos, e ao contrário da acne na adolescência, afeta mais o sexo feminino. Esta acne pode surgir pela primeira vez na idade adulta (acne tardia), pode iniciar-se na adolescência e continuar durante a idade adulta (acne persistente) ou regressar após um interregno de alguns anos (acne recorrente). A prevalência desta doença tem aumentado nos últimos 30 anos, e embora a fisiopatologia seja semelhante à da acne na adolescência, são atualmente consideradas doenças distintas, com tratamentos diferentes.
As principais diferenças comparativamente com a acne que surge na adolescência são a localização das lesões, que ocorre principalmente no queixo e na zona mandibular (em forma de U), e o tipo de lesões, que são maioritariamente lesões inflamadas (pápulas e pústulas).
Os motivos deste aumento de número de casos ainda estão em estudo, mas existem diversos fatores apontados: fatores hormonais, genéticos, tabaco, insónias, stress, obesidade, poluição, fatores alimentares (alimentação rica em hidratos de carbono e em lacticínios, suplementos proteicos…), alguns produtos cosméticos… Mas o mais interessante é que o surgimento desta situação poderá estar relacionado com lavagens excessivas do rosto, com uma barreira cutânea danificada, que contribuem para a perda transepidérmica de água. Ou seja, rotinas demasiado agressivas e deslipidantes e por outro lado, a falta de rotinas de higiene e hidratação podem ajudar a despoletar esta patologia. Da mesma forma, o uso de demasiados cosméticos parece ter aqui algum impacto.
Frequentemente a abordagem tradicional usada na adolescência pode não funcionar na idade adulta: a acne demora mais tempo a responder a tratamentos (por vezes cerca de 3 meses são necessários para vermos resultados), e a pele tem maior potencial de sensibilização. Além disso, surge numa fase diferente da vida, em que as mulheres estão grávidas, pensam em engravidar ou amamentam, o que limita mais os tratamentos indicados. Além disso, em cerca de 20% das mulheres surgem cicatrizes, com possível risco de hiperpigmentação pós-inflamatória.
Como farmacêuticos comunitários, podemos e devemos atuar e ajudar as nossas utentes, até porque, infelizmente, muitas não têm acesso a consultas de dermatologia.
Devemos sempre recomendar o que designo por tríade do sucesso: limpeza (com um produto adequado, que limpe a pele sem a agredir ou deslipidar em demasia); hidratar (um hidratante não comedogénico, fluído, adequado a peles mistas ou oleosas, com ativos reparadores e hidratantes) e proteger (protetor solar com FPS 50+, de preferência com elevada proteção UVA e luz azul). A introdução na rotina de um produto com ácido azelaico (15 a 20%) uma vez ao dia pode funcionar muito bem na redução do número de lesões. E obviamente, encaminhar para o médico em casos de resistência ao tratamento, para despistar causas hormonais e para fazer tratamentos com medicamentos sujeitos a receita médica.
Referências:
Bagatin E, Freitas THP, Rivitti-Machado MC, Machado MCR, Ribeiro BM, Nunes S, Rocha MADD. Adult female acne: a guide to clinical practice. An Bras Dermatol. 2019 Jan-Feb; Bagatin E, Rocha MADD, Freitas THP, Costa CS. Treatment challenges in adult female acne and future directions. Expert Rev Clin Pharmacol. 2021 Jun; Kutlu Ö, Karadağ AS, Wollina U. Adult acne versus adolescent acne: a narrative review with a focus on epidemiology to treatment. An Bras Dermatol. 2023 Jan-Feb.