Compromisso dos Internistas Portugueses para 2024
Artigo de opinião de Lèlita Santos, Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna.

Como é tradicional, todos, na passagem do calendário para um novo ano, fazemos o balanço do que se passou antes e formulamos os nossos desejos, quer pessoais quer profissionais, para o próximo ano.
A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna e o conjunto dos Internistas do país não são exceção e querem, sobretudo, mudar.
O final do ano de 2023 e o início de 2024 foram duros para a população, para o SNS no geral e para a Medicina Interna em particular. Sabemos que tudo está em mudança e há necessidade de inovar e trilhar caminhos seguros.
Os médicos têm apontado as múltiplas desconformidades do sistema, de que são exemplos: a relevância dos novos objetivos e prioridades da classe médica face à profissão, com foco nos horários e condições de trabalho; a constituição de pequenos núcleos sem comunicação entre si em que o sistema de saúde se tem transformado, fragilizando o SNS pois o ambulatório tem ficado em segundo plano e o serviço de urgência é a porta principal de acesso para os doentes, neste caso uma urgência hospitalar suportada pela Medicina Interna e pelas horas extraordinárias que os médicos têm de cumprir; a falta crónica de recursos humanos a todos os níveis assistenciais e em todos os grupos dos profissionais de saúde sabendo-se que, no que diz respeito aos médicos, isso condiciona o excesso de horas de trabalho; a falta de reconhecimento aos profissionais; as tarefas não clínicas como fonte de desgaste e desmotivação; a escassez de recursos tecnológicos no SNS em que muitos hospitais possuem equipamentos já obsoletos ou degradados e, nos cuidados primários, a impossibilidade de recorrer a meios complementares de diagnóstico em tempo útil; sistemas informáticos lentos e de difícil operacionalidade entre si e, sobretudo, a falta de visão para o futuro por parte das tutelas e mesmo de alguns órgãos dirigentes dos diversos grupos de profissionais de saúde, com a ausência de planificação a médio e longo prazo. A tónica tem sido resolver os problemas por reação, sem os antecipar e planear estratégias.
Os Internistas estão ao lado dos seus doentes e continuam a gostar da sua profissão e da sua especialidade embora estejam desanimados por não vislumbrarem a vontade de mudança.
No mês de dezembro de 2023, mês em que se comemora sempre o “mês da medicina interna”, a SPMI celebrou os seus 72 anos. Trinta e um Internistas, ao longo dos 31 dias desse mês, expressaram o que sentem que é a sua especialidade. Não houve uma única expressão de desalento. Todos manifestaram a sua alegria por serem internistas, apesar das adversidades que, afinal, se podem transformar em desafios. Todos convergiram, com frases de que se extraem alguns excertos como realçando a exigência, a necessidade de dedicação mas, também, o quanto esta especialidade é gratificante, versátil e uma “arte” porque utiliza o raciocínio clínico na sua maior abrangência, junta as peças para dar sentido aos problemas clínicos e humanos, olha a plenitude multiorgânica, exerce em equipa como maestro da complexidade e consegue surpreender cada um todos os dias apesar da muita responsabilidade e do desafio de ser, realmente, o internista, o médico completo.
Os internistas mantêm o seu compromisso de estar presentes para colaborar na recuperação do SNS e no apoio à comunidade.
A SPMI deseja a todos um excelente Ano Novo!