Desafios da comercialização de medicamentos em Moçambique

Desafios da comercialização de medicamentos em Moçambique

Artigo escrito por Vanessa de Sousa Baronet – Farmacêutica e especialista em Desenvolvimento de Negócios Farmacêuticos

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Faz este mês 12 anos que “aterrei” em Moçambique, para uma das experiências mais desafiantes e enriquecedoras da minha carreira profissional: trabalhar na área de importação e distribuição de medicamentos em África.  

Nesta área, são muitos os desafios do dia-a-dia, que exigem resiliência e motivação para seguir em frente: 

1) Processos de registo e aprovação de medicamentos: Moçambique apresenta uma forte regulamentação e burocracia no registo de medicamentos, e apesar da possibilidade de registo por reconhecimento por outras entidades reguladoras como EMA, FDA, ANVISA ou OMS, o processo é bastante demorado; 

2) Gestão de stocks: a maioria dos medicamentos é importada, o que torna o país vulnerável a atrasos alfandegários, variação cambial e disponibilidade internacional. A elevada dependência de um importador exclusivo e os dados de mercado, nem sempre atualizados ou completos, podem conduzir a ruturas de stocks frequentes, e dificuldades em alinhar a oferta com a procura real;  

3) Formação de profissionais qualificados: apesar de existirem no país alguns cursos técnicos e superiores de farmácia, existem grandes lacunas em cursos de gestão adaptados a farmacêuticos, nomeadamente em áreas como marketing, logística e supply chain, estratégia, contabilidade e finanças. Este é sem dúvida, um dos maiores desafios que tenho enfrentado na gestão de empresas e por este motivo em 2023 criei uma empresa de formação de profissionais de farmácia;  

4) Infraestruturas logísticas limitadas e condições de conservação: Devido à elevada extensão territorial, as condições de transporte são complexas, existindo dificuldades de acesso a medicamentos nas províncias a norte da capital; Nem todos os armazéns possuem cadeia de frio fiável e os problemas de energia elétrica podem também afetar a estabilidade dos medicamentos. 

5) Qualidade e falsificação: A questão da qualidade dos medicamentos e do contrabando é essencial para a segurança dos doentes e para a sustentabilidade do setor farmacêutico.  

Apesar dos esforços, envidados pela ANARME, existem entradas paralelas e canais informais que dificultam o controlo pleno. Medicamentos contrabandeados entram por fronteiras terrestres e marítimas, sem controlo aduaneiro rigoroso. Há registos de falsificação (produtos sem princípio ativo ou com substâncias tóxicas) e de desvio de medicamentos do sistema público para venda em mercados paralelos. Os produtos contrabandeados são frequentemente vendidos em barracas, mercados informais e farmácias, a preços mais baixos, atraindo a população e constituindo um risco para a saúde pública.  

Cabe-nos a nós farmacêuticos e profissionais de saúde, sensibilizar a população para os riscos de comprar nestes mercados, visto que: 

  • medicamentos falsificados ou mal conservados podem causar falha terapêutica, resistências antimicrobianas ou efeitos tóxicos. 
  • Perda de confiança no sistema de saúde: os doentes deixam de confiar na eficácia dos tratamentos. 
  • Impacto económico: distribuidores e farmácias legais enfrentam concorrência desleal 

Apesar de todos estes desafios, trabalhar no mercado de importação, distribuição e comercialização de medicamentos em Moçambique, traz me diariamente aprendizagens e responsabilidades que vão muito além da gestão de uma empresa: garantir que os medicamentos essenciais e com qualidade cheguem a quem mais precisa.  Esta é uma missão que tento cumprir diariamente, ao longo destes 12 anos: promover o acesso a medicamentos de qualidade e que façam a diferença na vida de milhares de moçambicanos.  

“Faz este mês 12 anos que “aterrei” em Moçambique, para uma das experiências mais desafiantes e enriquecedoras da minha carreira profissional: trabalhar na área de importação e distribuição de medicamentos em África.”

Vanessa de Sousa Baronet – Farmacêutica e especialista em Desenvolvimento de Negócios Farmacêuticos