Eliana Veiga, uma Farmacêutica em Paredes de Coura

Eliana Veiga tem 25 anos, iniciou os estudos na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, mas pediu transferência para Coimbra no final do 1º ano. Após o estágio curricular, na Farmácia da Calçada, foi convidada para reforçar a equipa.

Eliana Veiga, com o diploma do seu Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas pela Universidade de Coimbra

Ciências Farmacêuticas foi a sua primeira opção no concurso de acesso à Universidade?

A minha primeira opção foi Medicina. Entrei em Ciências Farmacêuticas, tendo em vista a mudança de curso posterior, no entanto, com o tempo comecei a gostar do curso e acabei por ficar.

Por que motivo escolheu a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa e quais as razões para a mudança?

Ingressei na FFUL por ser uma faculdade maravilhosa, com grandes resultados, oportunidades para os alunos e professores com trabalhos de investigação consistentes. No entanto após uma ida a Coimbra, uma cidade pacata e simpática, conheci a FFUC. Durante a visita a esta faculdade, vi um ambiente muito agradável e conheci professores acessíveis e alunos simpáticos. Fiquei, desta forma, apaixonada pela cidade e pela faculdade e decidi concluir o meu curso lá.

Durante a licenciatura pensou em fazer investigação, teve contacto com a Indústria ou com outras áreas afins?

Sim pensei, no entanto, com o aparecimento do SARS-CoV-2 isso tornou-se complicado. Assim, acabei por realizar um estágio em assuntos regulamentares, com um dos meus docentes. Em Novembro de 2023 foi publicado o meu primeiro artigo científico sobre péptidos anti-envelhecimento no tratamento da pele.

Como foi o seu percurso até começar a trabalhar na Farmácia da Calçada?

Ingressei na FFUL. Mudei para a FFUC, onde estive envolvida em iniciativas de voluntariado, formações em diversas áreas (Covid- 19, liderança de equipas, cefaleias, etc.) e associativismo jovem. Realizei, posteriormente, o estágio, na Farmácia da Calçada, onde acabei por começar a trabalhar.

Quais são as principais vantagens de trabalhar em Paredes de Coura?

Paredes de Coura é uma vila pequena e sossegada, pelo que proporciona, assim, um ambiente calmo e sossegado para início de carreira. Nesta vila os utentes são empáticos, acolhedores e muito sociáveis facilitando o processo de atendimento. Além disso, a proximidade do centro de saúde facilita o contacto com outros profissionais de saúde como médicos e enfermeiros, o que na minha opinião, auxilia imenso no cuidado dos utentes.

E as dificuldades?

Paredes de Coura é um concelho pequeno, como tal, grande parte da população é idosa, assim, a falta de literacia em saúde é uma das principais dificuldades no atendimento ao público, o que contribui para criação de hábitos incorretos (toma de medicamentos de outros utentes, interrupção da terapêutica, dificuldade em entender a necessidade de prescrição médica para alguns medicamentos) e o trabalho em pé durante o dia inteiro, o que se torna muito cansativo.

Tem alguma ligação com esta região?

Sim parte da minha família reside neste concelho.

Quais os pontos mais positivos no trabalho em Farmácia Comunitária?

Trabalhar em Farmácia Comunitária desafia-nos diariamente. Este emprego traz, assim, diversas vantagens, uma vez que aprendemos a comunicar fluentemente, a lidar com utentes muito variados (diferentes faixas etárias, sexos, níveis de literacia etc), a ser mais pacientes e “humanos”( pois contactamos com histórias difíceis todos os dias) e permite-nos, ainda, estabelecer relações interpessoais gratificantes.

Está a ser discutida, há algum tempo, a possibilidade de os doentes sem acesso ao Médico de Família poderem renovar receitas de medicação crónica nas farmácias. De que forma esta medida poderá contribuir para a autonomia e responsabilização dos Farmacêuticos por este serviço?

Esta medida irá contribuir muito para a emancipação do farmacêutico, reconhecendo, desta forma, toda a sua competência e valor enquanto agente de saúde pública e forte aliado no auxílio ao SNS. No entanto, a renovação das receitas de medicação crónica na farmácia implicará como é óbvio maior responsabilidade para os farmacêuticos.

E estarão os Farmacêuticos preparados, técnica e cientificamente, para estes desafios?

Sim. Os farmacêuticos encontram-se preparados, no entanto considero que deverão ter acesso a formações financiadas, com o intuito de consolidar conhecimentos e esclarecer quaisquer dúvidas que possam ter.

Quais foram as situações mais difíceis que presenciou em contexto laboral?

Foram essencialmente situações de doenças graves e indisposições, por parte dos utentes.

Numa altura em que há muitos licenciados a sair do país, tem pensado nesta hipótese? Já recebeu algum tipo de proposta?

Sim, pensei. E sim, já recebi propostas para o estrangeiro.

Eliana Veiga junto à Torre da Universidade de Coimbra

Se saísse de Portugal para trabalhar, em que país gostaria de exercer como farmacêutica?

Gostaria de trabalhar na Suíça, visto que é um país seguro, com boas condições de vida e um salário apelativo para início de carreira.

Como vê a evolução da profissão farmacêutica em termos globais?

Acho que a profissão farmacêutica, bem como a melhoria das condições de trabalho desta profissão têm evoluído, de forma lenta. No entanto, considero que a pandemia da Covid-19 foi impulsionadora de diversas mudanças.

Na sua opinião, de que forma os currículos das faculdades de farmácia se deviam adaptar para dotar os futuros farmacêuticos de melhores instrumentos para responder aos desafios actuais?

As faculdades deveriam além da formação científica apostar na formação tecnológica dos seus alunos e oferecer, ainda, disciplinas que ensinassem os alunos a dialogar com o utente, a contribuir para o combate à falta de literacia em saúde e a reconhecer os principais problemas que afetam a sociedade atual (saúde mental, dificuldade de acesso à saúde, sobrecarga dos hospitais).

Aconselhava o curso de Ciências Farmacêuticas aos candidatos à Universidade?

Sim, se esta profissão for o seu verdadeiro sonho, sim. No entanto, alertá-los-ias para as dificuldades que iriam enfrentar.

Quais são os seus projectos a médio prazo?

Gostaria de envolver-me na área de Marketing Farmacêutico, pois sou apaixonada pelo contacto com o público e vendas.