Ensino farmacêutico em Portugal está estagnado e precisa de reforma urgente, alerta estudo

Ensino farmacêutico em Portugal está estagnado e precisa de reforma urgente, alerta estudo

Um estudo da Sociedade Portuguesa de Farmacêuticos dos Cuidados de Saúde revela estagnação preocupante nos currículos dos mestrados integrados em Ciências Farmacêuticas em Portugal, desajustados face às exigências atuais da profissão.

Um estudo patrocinado pela Sociedade Portuguesa de Farmacêuticos dos Cuidados de Saúde (SPFCS) conclui que o ensino pré-graduado das Ciências Farmacêuticas em Portugal atravessa uma preocupante estagnação curricular e carece de uma reestruturação urgente para responder às exigências contemporâneas da profissão e da regulação europeia.

A investigação centra-se nos Mestrados Integrados em Ciências Farmacêuticas (MICF) das três principais faculdades públicas — Universidade de Coimbra (FFUC), Universidade de Lisboa (FFUL) e Universidade do Porto (FFUP) — e cobre o período entre 2010 e 2025. Baseada na análise documental dos planos de estudo publicados em Diário da República e na avaliação dos conteúdos programáticos das unidades curriculares obrigatórias, a revisão foi conduzida por pares farmacêuticos com diferentes formações, aplicando uma grelha padronizada que considerou a relevância científica, regulamentar e profissional das unidades, assim como a sua carga letiva e posicionamento curricular.

O estudo recorda que o ensino farmacêutico é regulado na União Europeia pela Diretiva 2005/36/CE, que reforçou a vertente clínica da profissão, sem perder a base científica. Contudo, em Portugal, os planos curriculares permanecem praticamente inalterados há mais de uma década, registando apenas alterações pontuais, sobretudo no quinto ano, sem impacto estrutural.

Segundo os autores, esta inércia contrasta com a evolução acelerada da profissão farmacêutica, cada vez mais marcada por exigências clínicas, regulamentares e tecnológicas. O relatório sublinha ainda a falta de centralidade do medicamento nos planos de estudo, apesar de ser o eixo da profissão. Áreas emergentes como farmacogenómica, farmácia clínica, avaliação de tecnologias de saúde e regulação do medicamento continuam sub-representadas ou mal distribuídas ao longo da formação.

Para a SPFCS, esta situação compromete a preparação dos futuros farmacêuticos para os desafios reais da prática, desde a tomada de decisão clínica até à aplicação rigorosa da ciência ao medicamento e à saúde pública.

Consulte o sumário executivo e as conclusões em: EnsinoFarmSiteSPFCS