Especialistas pedem comparticipação de medicamentos para tratamento da obesidade
Na véspera de se assinalar o Dia Mundial da Obesidade, a Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM) e a Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO) alertaram também para a “premência de colocar a obesidade e o seu tratamento no centro da agenda das políticas de saúde em Portugal”.
Especialistas no tratamento da obesidade apelaram hoje à comparticipação dos medicamentos para o tratamento desta doença, nomeadamente para as classes mais desfavorecidas, as mais afetadas por esta patologia, e ao reforço das consultas de especialidade no SNS.
Na véspera de se assinalar o Dia Mundial da Obesidade, a Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM) e a Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO) alertaram também para a “premência de colocar a obesidade e o seu tratamento no centro da agenda das políticas de saúde em Portugal”.
“A obesidade é uma doença e, tal como as outras doenças, precisa de tratamento e os tratamentos existem, mas existe uma inacessibilidade das pessoas para comprar os fármacos e para se tratar, portanto, o que nós apelamos numa primeira fase é que haja vontade política para que os fármacos sejam comparticipados”, defendeu à agência Lusa a presidente da SPEDM, Paula Freitas.
Para os especialistas, essa comparticipação deve ser na ordem dos 30 a 40%.
Segundo a endocrinologista, o preço dos medicamentos é impeditivo para as classes sociais mais desfavorecidas, onde a obesidade é mais prevalente, sendo por isso urgente a sua comparticipação.
Esta posição é sustentada pelo presidente da SPEO, José Silva Nunes, afirmando que são estas pessoas que “estão amputadas da utilização de um dos pilares do tratamento [da obesidade], a ajuda farmacológica”.
A tempo inteiro no Serviço Nacional de Saúde, o endocrinologista contou que o serviço que dirige no Hospital Curry Cabral, em Lisboa, acompanha muitas pessoas com “condições económicas não muito favoráveis”.
“É extremamente desmotivador tentar, sem ser por via cirúrgica, que as pessoas controlem esta doença porque quando se propõe uma ajuda farmacológica, dizem que não têm a mínima hipótese de conseguir adquirir estes fármacos”, que podem representar uma despesa até cerca de 240 euros por mês, salientou Silva Nunes.
Segundo os últimos dados oficiais, o excesso de peso, que inclui a pré-obesidade e a obesidade, atinge 67,6% da população adulta portuguesa.
Em dezembro de 2023, o Ministério da Saúde criou, pela primeira vez, um programa de resposta integrada à obesidade no SNS, reforçando a intervenção precoce e eficaz para reduzir o impacto negativo do excesso de peso na saúde da população.
Para os especialistas, este programa “é, sem dúvida, um primeiro passo”, mas consideram em comunicado que ainda há muito a fazer, nomeadamente a introdução de novos fármacos que já existem noutros países e a comparticipação dos já existentes.
Defendem também o reforço das consultas de obesidade no SNS para prevenir doenças e evitar a progressão de outras associadas à obesidade como a diabetes, o cancro, doenças cardiovasculares, que no total são mais de 200.
Além disso, o tratamento da doença representaria uma poupança de milhares de milhões de euros para o Estado, conforme demonstrou o estudo “O Custo e a Carga do Excesso de Peso e Obesidade”, promovido pela SPEO.
“Este estudo foi reportado ao ano de 2018 e chegou à ‘bonita’ quantia de 1,15 mil milhões de euros que são gastos à custa da obesidade por ano” no SNS, valor que corresponderia à manutenção dos três maiores centros hospitalares do país à data, realçou Silva Nunes.
Para Paula Freitas, o sistema de saúde foca-se muito nas consequências da obesidade e não nas causas, e avisa que, se o problema não for tratado, Portugal vai ter “pessoas muito mais doentes, muito mais vulneráveis e muito mais pobres, porque as pessoas que têm obesidade, se não se tratarem, não vão ter emprego”.
Em 2018, adiantou, 43% dos óbitos totais em Portugal estavam relacionados com a obesidade, doença que é responsável por cerca de 51% da mortalidade prematura.
O ano de 2024 marca os 20 anos desde que a obesidade foi considerada como uma doença pela Direção-Geral de Saúde, mas os especialistas consideram que, “apesar de ser considerada um real problema de saúde pública, as autoridades ainda não estão alerta, nem capacitaram o SNS para dar as respostas adequadas”.
“Portugal foi o país pioneiro na Europa neste reconhecimento (…) foi conseguido algum avanço, nomeadamente em termos de atitudes de prevenção. Infelizmente, a prevalência da obesidade e nomeadamente no nosso país ainda continua a ser extremamente elevada”, lamentou Silva Nunes.