Estudo em Guimarães confirma: uso regular dos parques urbanos melhora saúde mental e física
Investigação do Laboratório da Paisagem, UMinho e ISAVE em Guimarães demonstra que é o uso dos espaços verdes – e não apenas a proximidade – que melhora sintomas de stress, ansiedade e qualidade do sono. Estratégia Verde Radial e Capital Verde Europeia 2026 reforçam compromisso do município com a saúde ambiental.

Proximidade não basta — é a frequência de utilização dos espaços verdes que faz a diferença, conclui o estudo “Impacto dos espaços verdes na saúde mental e física”, apresentado esta segunda-feira, no Laboratório da Paisagem, em Guimarães. A investigação envolveu 501 residentes próximos de áreas verdes do concelho e resulta de uma parceria entre o Laboratório da Paisagem, a Escola de Medicina da Universidade do Minho (UMinho) e o Instituto Superior de Saúde (ISAVE).
O estudo, conduzido entre 8 e 24 de março de 2025, avaliou indicadores de saúde, perceção ambiental e variáveis socioeconómicas, analisando diferenças entre quem vive a menos ou a mais de 300 metros de zonas verdes. Os resultados apontam para um dado claro: o simples facto de morar junto a um parque não se traduz, por si só, em benefícios de saúde mensuráveis.
“A natureza só tem efeito terapêutico quando se transforma em experiência vivida, regular e ativa”, afirma Pedro Morgado, investigador da UMinho. “Viver ao lado de um parque pode ser irrelevante se não houver envolvimento da população no seu uso.”
Atividade física e saúde mental mais protegidas entre quem usa parques com frequência
O uso frequente dos espaços verdes mostrou ter impacto positivo na redução de stress, ansiedade e melhoria da qualidade do sono, enquanto a proximidade física não teve correlação estatisticamente significativa com estes parâmetros. A influência sobre a depressão mostrou-se mediada por fatores como rendimento e situação profissional.
Já no que respeita à atividade física, a proximidade continua a ter um papel importante: quanto mais longe do parque, menos tempo os cidadãos dedicam ao exercício moderado. A prática de caminhadas e outras atividades ligeiras é mais comum entre quem utiliza os parques com regularidade.
Desigualdade socioeconómica: quem mais valoriza não é quem mais usa
O estudo evidencia também uma dissonância socioeconómica relevante: os grupos com maiores rendimentos valorizam mais os espaços verdes, mas são os grupos com rendimentos mais baixos que os frequentam mais regularmente. Este padrão reforça a importância de políticas públicas ativas que incentivem a utilização dos parques urbanos, para além da sua simples existência ou manutenção.
Guimarães investe em anéis verdes e prepara Capital Verde Europeia 2026
O estudo surge num momento estratégico para Guimarães, que será Capital Verde Europeia em 2026. A cidade já iniciou a construção do projeto “Bairro C”, um anel verde urbano de 11 km, e prevê três cinturões concêntricos que ligarão zonas verdes, parques e ecovias, abrangendo até 74% da população do concelho.
“Queremos eliminar barreiras de acessibilidade e promover a utilização efetiva dos espaços naturais”, refere Carlos Ribeiro, diretor executivo do Laboratório da Paisagem.
Entre 2012 e 2023, Guimarães aumentou em 95 hectares a sua área verde, que inclui dois parques urbanos com mais de 30 hectares cada.
Alterações climáticas provocam emoções negativas na população
A investigação avaliou ainda a perceção emocional associada às alterações climáticas. As principais emoções referidas foram tristeza (32%) e impotência (23%), seguidas de mágoa, ansiedade e medo. Os utilizadores mais frequentes dos parques são também os mais preocupados com as questões ambientais e os mais disponíveis para contribuir financeiramente para soluções sustentáveis.
Conceito de One Health e abordagem do Exposoma na base do estudo
A investigação segue os princípios de saúde pública integrada, alinhada com os conceitos de One Health e Exposoma, reconhecendo a interligação entre saúde humana, ambiente e sociedade. A avaliação do impacto cumulativo de exposições ambientais e sociais ao longo da vida foi central na metodologia.
Para mais informações: http://www.labpaisagem.pt


