Estudo revela impacto da pandemia de COVID-19 na qualidade do uso de antibióticos nos cuidados primários
Os resultados revelaram que, logo após o início da pandemia, houve uma queda acentuada no consumo de antibacterianos em Portugal. Essa redução significativa foi observada em todas as categorias analisadas, incluindo penicilinas, cefalosporinas, macrolídeos, lincosamidas, estreptograminas e quinolonas.
Uma equipa de pesquisadores liderada por Mariana Domingues, Carla Torre, José Pedro Guerreiro, Pedro Barata, Margarida Correia-Neves, João Rocha, Bruno Sepodes e António Teixeira Rodrigues conduziu um estudo abrangente sobre a qualidade do uso de antibióticos nos cuidados primários durante a pandemia de COVID-19. Os resultados do estudo foram publicados no conceituado International Journal for Quality in Health Care.
A pesquisa procurou avaliar o impacto da pandemia e das medidas de mitigação da saúde pública na transmissão de doenças infecciosas, bem como na utilização de antibacterianos. Em particular, os cientistas se concentraram nos padrões de consumo de antibacterianos para uso sistémico em Portugal, utilizando uma análise de séries temporais interrompidas.
Os dados analisados abrangeram o período de 1º de janeiro de 2016 a 30 de junho de 2022 e foram obtidos por meio de registros de antibacterianos dispensados em farmácias comunitárias em Portugal. Os investigadores utilizaram o modelo autorregressivo de média móvel para estimar as taxas de consumo absoluto e relativo de antibacterianos.
Os resultados revelaram que, logo após o início da pandemia, houve uma queda acentuada no consumo de antibacterianos em Portugal. Essa redução significativa foi observada em todas as categorias analisadas, incluindo penicilinas, cefalosporinas, macrolídeos, lincosamidas, estreptograminas e quinolonas. Em termos absolutos, a diminuição foi superior a 5 doses diárias definidas por 1000 habitantes por dia (DDD) (P < 0,0001).
Além disso, os investigadores identificaram um aumento de longo prazo no consumo de cefalosporinas. Esse achado sugere possíveis mudanças nos padrões de prescrição de antibacterianos ao longo do tempo, mesmo durante a pandemia.
No entanto, em relação à distribuição relativa de antibacterianos, as mudanças foram mínimas. Apenas as cefalosporinas de terceira e quarta gerações mostraram uma alteração significativa (0,0734%). Isso indica que a pandemia de COVID-19 pode ter afetado a quantidade total de antibióticos prescritos, mas não parece ter alterado drasticamente a distribuição dos tipos de antibacterianos utilizados.
Os resultados desse estudo destacam a importância da conscienlização sobre o uso adequado de antibióticos e suas implicações durante a pandemia de COVID-19. Embora a redução observada no consumo de antibacterianos possa ser considerada positiva para o controle da resistência antimicrobiana, é fundamental acompanhar os efeitos de longo prazo da pandemia e sua influência nas taxas de resistência.
Os investigadores envolvidos nesse estudo forneceram contribuições valiosas para o entendimento da qualidade do uso de antibióticos nos cuidados primários durante a pandemia. Suas descobertas fornecem insights importantes para profissionais de saúde e reguladores, visando o aprimoramento das estratégias de controle de infecções e do uso prudente de antibacterianos.
Referência do artigo: Mariana Domingues and others, COVID-19 pandemic and the quality of antibiotic use in primary care: an interrupted time-series study, International Journal for Quality in Health Care, Volume 35, Issue 2, 2023, mzad014, https://doi.org/10.1093/intqhc/mzad014.