Farmacêuticos preocupados com sustentabilidade do setor convencionado de análises
Presidente da secção regional Norte da Ordem dos Farmacêuticos diz que a integração das análises clínicas nas Unidades Locais de Saúde (ULS) pode pôr em causa centenas de postos de trabalho.
Em declarações à Agência “Lusa”, Félix Carvalho acusou a tutela de “falta de diálogo” e contou que tem recebido contactos de colegas do setor convencionado das análises clínicas que manifestam “preocupação sobre o potencial impacto negativo que a prevista criação de quatro novas ULS pode ter na sua atividade”.
“Não têm tido por parte da tutela qualquer tipo de diálogo, qualquer tipo de informação e pelo que tem acontecido historicamente em outras ULS que foram criadas anteriormente estão com muito receio de que a sua existência possa estar em causa. É incompreensível que a tutela não dialogue com estes laboratórios convencionados que durante mais de 40 anos mantiveram um serviço de excelência para o SNS [Serviço Nacional de Saúde]”, disse o presidente da secção regional Norte da Ordem dos Farmacêuticos.
Segundo Félix Carvalho podem estar em causa “centenas e centenas” de postos de trabalho de profissionais “com elevada qualidade técnico-científica”, bem como “os investimentos em sistemas de ponta e na melhoria de instalações para fornecer um bom serviço ao SNS”.
“Muitos pequenos e médios laboratórios têm receio de fazer investimentos de futuro. Foram essenciais e incríveis durante a pandemia, mas correm o risco de fechar. Fechando é um processo irreversível. Depois de fecharem não voltam a abrir”, disse Félix Carvalho, acrescentando que “a faturação no sistema convencionado ao SNS é muitas vezes superior a 90%”.
Recorde-se que, a 21 de fevereiro, a Direção-Executiva o SNS (DE-SNS) anunciou a criação de sete novas ULS, passando o SNS a dispor de um total de 20 estruturas deste género. No Norte, foram criadas as ULS de Póvoa de Varzim/Vila do Conde, do Médio Ave e de Braga. Até aqui existiam oito ULS a nível nacional, sendo a mais antiga de todas a de Matosinhos criada em 1999.
Também à “Lusa”, a médica Fátima Fonseca, da DE-SNS, disse que o objetivo é conseguir que “as populações beneficiem de cuidados cada vez mais próximos, diferenciados e diferenciadores, melhorando a participação dos cidadãos, das comunidades, dos profissionais e das autarquias na definição, acompanhamento e avaliação das politicas de saúde, maximizando o acesso e a eficiência do SNS”.
Já em comunicado, a secção regional Norte da Ordem dos Farmacêuticos considerou que “a criação de ULS e o seu impacto nos laboratórios convencionados das análises clínicas é um tema recorrente que carece de clarificação e orientações adequadas”.
Naquela nota, a secção regional recorda que em 2017, a Ordem dos Farmacêuticos abordou a organização e funcionamento do setor junto de representantes de vários grupos parlamentares, “tendo em conta a ameaça sobre a sustentabilidade dos pequenos e médios laboratórios privados de análises clínicas/patologia clínica, que durante décadas assumiram um papel nuclear no acesso dos portugueses aos meios complementares de diagnóstico e terapêutica (MCDT)”.
“As preocupações manifestadas em 2017 ainda persistem: fenómenos como a internalização das análises clínicas nos hospitais e laboratórios do Estado ou a integração de unidades privadas locais em operadores de maior dimensão têm afetado a ação de todos os que operam nessa área”, lê-se no comunicado.