Helder Mota Filipe diz que a falta de medicamentos em Portugal se vai agravar

Helder Mota Filipe diz que a falta de medicamentos em Portugal se vai agravar

Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos deu uma entrevista ao “Diário de Notícias” e alerta para a necessidade de ” uma verdadeira estratégia de reserva de medicamentos”.

O problema da falta de medicamentos não é algo passageiro e pode mesmo tornar-se um problema de saúde pública. O alerta é sério e foi feito esta segunda-feira, 16 de janeiro, pelo bastonário da Ordem dos Farmacêuticos (OF). Numa entrevista concedida ao “Diário de Notícias”, Helder Mota Filipe diz que a situação é preocupante e que o País tem de “trabalhar urgentemente numa verdadeira estratégia de reserva de medicamentos”.

Recordando que, nos últimos dias o Infarmed suspendeu a exportação de 110 medicamentos – uma decisão justificada pelas falhas nas farmácias comunitárias (em alguns casos com reposição prevista para apenas daqui a alguns meses) – o bastonário da OF diz que “a situação tem vindo a agravar-se e, muito provavelmente, vai agravar ainda mais, porque todas as causas que estão na sua base se vão manter”.

Segundo explicou Helder Mota Filipe, a sua grande preocupação é que “o país deveria estar melhor preparado para gerir crises como esta”. “Não podemos achar que a nós nada nos vai acontecer. Outros países europeus têm-se preparado com mecanismos legais. Não podemos achar que a nós nada nos vai acontecer”, explicou ao “Diário de Notícias”.

Apesar de tudo, o responsável da OF sublinha não ter sido “identificada qualquer situação que constitua um problema grave de saúde pública – isto é, doentes que precisam de um medicamento em falta e para o qual não haja alternativa”. Contudo, alerta: “a minha preocupação é que o país consiga garantir que tal não vai acontecer mas, para isso é mesmo necessário que o país esteja mais preparado”.

Por esta razão, Helder Mota Filipe defende que se deve “trabalhar urgentemente numa verdadeira, robusta e moderna estratégia de reserva de medicamentos”. “Deveríamos ter uma reserva que permitisse ao Estado recorrer a ela nestas situações, exatamente para se diminuir o risco de um problema de saúde pública”, frisa.

O bastonário da OF defende ainda a criação de uma lista de equivalentes terapêuticos para alguns medicamentos. “Recentemente houve dificuldade no acesso à amoxicilina pediátrica devido ao aumento das infeções respiratórias nas crianças, mas nos países em que já há uma lista de equivalentes terapêuticos o utente vai à farmácia e não sai de lá sem tratamento. Não há aquele, mas há outro”, exemplifica, explicando que “em Portugal, o utente vai à farmácia, o farmacêutico diz que não tem o medicamento e não pode dispensar um alternativo. A solução é o utente ir de novo ao centro de saúde, pedir nova consulta e nova receita, e este vaivém não é compatível com uma infeção respiratória numa criança”, diz, sublinhando que estas situações, dada a realidade atual, poder-se-ão “tornar cada vez mais frequentes”.

“O importante é identificar-se os problemas e agir, criando-se condições do ponto de vista legal que permitam responder rapidamente a estas situações”, diz Helder Mota Filipe

O bastonário argumenta que tal poderia ser feito rapidamente, pois até há “uma instituição, sediada no Infarmed, que é a Comissão Nacional de Farmácia e Terapêutica, que poderia servir para criar rapidamente uma listagem oficial e até para criar outras soluções para este tipo de problema”, porque “quem sofre com isto são os doentes, as suas famílias e os profissionais, que veem os doentes a não serem tratados adequadamente”.