Investigação da FMUP propõe nova abordagem para identificar deficiência de ferro em doentes com insuficiência cardíaca

Investigação da FMUP propõe nova abordagem para identificar deficiência de ferro em doentes com insuficiência cardíaca

De acordo com a investigação da FMUP, as recomendações atuais podem não identificar adequadamente quem precisa de suplementação de ferro.

Foto: : Kaboompics.com/Pexels

Dois estudos da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) publicados na revista Clinical Research in Cardiology identificam lacunas nas recomendações atuais para diagnosticar deficiência de ferro em doentes com insuficiência cardíaca, sugerindo a sua revisão à luz dos dados mais recentes.

Segundo os investigadores da FMUP, “melhorar a identificação dos pacientes que necessitam de suplementação de ferro pode reduzir o risco de internamento e mortalidade associados à insuficiência cardíaca, que é uma das principais causas de óbito em Portugal”.

Atualmente, as diretrizes baseiam-se na análise dos níveis de ferritina e da saturação da transferrina para determinar a necessidade de suplementação de ferro. Este elemento é essencial para a produção de glóbulos vermelhos e para a respiração celular, fundamentais para a contração do músculo cardíaco.

“A deficiência de ferro aumenta o risco de internamento e mortalidade por insuficiência cardíaca, e a suplementação tem demonstrado ser eficaz na redução desse risco. No entanto, uma classificação inadequada dos pacientes pode resultar tanto em suplementação desnecessária como na exclusão de doentes que realmente necessitariam do tratamento”, explicam os autores.

O primeiro estudo, liderado pelo médico e investigador Francisco Vasques-Nóvoa, analisou o papel da ferritina como marcador das reservas de ferro em pacientes com insuficiência cardíaca aguda internados. Com base em uma coorte de 526 doentes do registo EDIFICA (Estratificação de Doentes com InsuFIciência CArdíaca Aguda), os resultados revelaram que, em situações de agravamento da insuficiência cardíaca, especialmente em casos de inflamação, a ferritina perde sua utilidade na identificação da deficiência de ferro. Nessas condições, níveis elevados de ferritina aparecem como um dos principais indicadores de mau prognóstico entre os marcadores do metabolismo do ferro.

O segundo estudo, conduzido pelo médico e investigador Pedro Marques, em colaboração com a Universidade de McGill (Montreal, Canadá), avaliou qual marcador é mais eficaz para identificar pacientes que beneficiam da suplementação de ferro, considerando a redução de internamentos e mortalidade cardiovascular.

Os investigadores concluíram que a saturação da transferrina, proteína responsável pelo transporte do ferro no sangue, é o marcador mais confiável para diagnosticar a deficiência de ferro quando inferior a 20%. O estudo também confirmou a pouca utilidade da ferritina na identificação de pacientes que realmente se beneficiam da suplementação de ferro.

As conclusões dos dois artigos destacam a necessidade rever os critérios para identificação de défice de ferro nestes doentes, tanto em contextos agudos de internamento como em casos de doença crónica estável.

Fonte: FMUP