Investigador Português Participa em Estudo que Avalia Efeito do Deferiprona na Doença de Parkinson
Universidade do Minho contribui para pesquisa que investiga os efeitos do deferiprona na progressão da doença de Parkinson.
Um estudo científico, liderado por pesquisadores internacionais, incluindo o investigador português Miguel Gago da Universidade do Minho, lançou luz sobre o papel do ferro na progressão da doença de Parkinson e examinou o potencial do deferiprona como intervenção terapêutica. Os resultados do estudo foram recentemente publicados na prestigiosa revista científica “New England Journal of Medicine“.
A doença de Parkinson é caracterizada pela perda progressiva de células nervosas que produzem dopamina, um neurotransmissor essencial para o controlo do movimento. Estudos anteriores haviam indicado um acúmulo anormal de ferro na região do cérebro conhecida como substância negra em pacientes com Parkinson. A presença desse ferro foi associada a complicações na função neural e possivelmente à progressão da doença.
O estudo, um ensaio clínico multicêntrico de fase 2, randomizado e duplo-cego, envolveu participantes recentemente diagnosticados com doença de Parkinson que nunca haviam recebido levodopa, um medicamento comum para tratar os sintomas da doença. Os participantes foram divididos em dois grupos: um grupo recebeu deferiprona oral na dose de 15 mg por quilograma de peso corporal, duas vezes ao dia, e o outro grupo recebeu um placebo equivalente. A terapia dopaminérgica foi reservada apenas para casos em que fosse necessária para o controle dos sintomas.
O resultado primário do estudo foi a mudança na pontuação total na Escala Revisada de Avaliação da Doença de Parkinson, patrocinada pela Movement Disorder Society (MDS-UPDRS), após 36 semanas de tratamento. Os resultados mostraram que os participantes que receberam deferiprona apresentaram piora significativamente maior nas medidas de parkinsonismo em comparação com o grupo placebo ao longo desse período.
Além disso, os investigadores exploraram os níveis de ferro na região do cérebro usando ressonância magnética. Surpreendentemente, os participantes que receberam deferiprona apresentaram uma redução maior nos níveis de ferro na substância negra em comparação com aqueles que receberam placebo. No entanto, o estudo também relatou eventos adversos sérios associados à deferiprona, incluindo agranulocitose e neutropenia em alguns participantes.
Este estudo lança uma nova luz sobre a relação entre o ferro cerebral, a terapia com deferiprona e a progressão da doença de Parkinson. Embora os resultados indiquem uma associação entre o uso da deferiprona e uma piora nos sintomas da doença durante o período de 36 semanas, é importante destacar que mais pesquisas são necessárias para compreender completamente os mecanismos subjacentes e para avaliar o potencial dessa terapia em diferentes estágios da doença.
O estudo foi financiado pelo programa Horizon 2020 da União Europeia e registrado no ClinicalTrials.gov sob o número NCT02655315. Os resultados podem influenciar futuras abordagens terapêuticas e abrem caminho para pesquisas mais aprofundadas sobre o uso de deferiprona no contexto da doença de Parkinson.