Investigadores do i3S desenvolvem alternativa aos antibióticos para combater bactérias multirresistentes

A descoberta representa uma nova esperança na batalha contra as super-bactérias, cujas propriedades de resistência aos antibióticos têm vindo a colocar desafios cada vez maiores à saúde pública.


Uma equipa de investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) deu um passo importante na luta contra as bactérias multirresistentes, ao descobrir uma nova abordagem terapêutica que não envolve o uso de antibióticos. A investigação foi recentemente publicada na prestigiada Nature Communications e visa uma alternativa inovadora para tratar infecções graves, causadas por bactérias como a Listeria monocytogenes, que demonstram uma resistência crescente aos tratamentos convencionais.

Este estudo, desenvolvido com o apoio do 6.º Concurso CaixaResearch de Investigação em Saúde 2023, promovido pela Fundação “la Caixa” e pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), centra-se na identificação de uma proteína chamada RmlT, responsável por tornar a bactéria Listeria mais virulenta e resistente aos antibióticos. Segundo Didier Cabanes, líder do grupo de investigação Molecular Microbiology do i3S, a RmlT transfere um açúcar para a superfície da bactéria, o que não só aumenta a sua virulência, mas também impede a ação eficaz dos antibióticos.

A equipa de investigadores comprovou que, ao eliminar este açúcar da superfície bacteriana, a Listeria tornou-se significativamente menos agressiva e mais suscetível aos antibióticos. “Gerámos uma bactéria mutante sem o açúcar e verificámos que ela se tornou menos virulenta, permitindo que os antibióticos fossem mais eficazes”, afirma Ricardo Monteiro, primeiro autor do estudo.

Agora, os investigadores do i3S estão a desenvolver uma droga que tem o objetivo de inibir especificamente a proteína RmlT, tornando a bactéria menos resistente e mais vulnerável aos tratamentos. O objetivo não é destruir a Listeria, mas sim enfraquecê-la para que os antibióticos possam atuar de forma mais eficaz. Este avanço tem potencial para ser alargado a outras bactérias multirresistentes, como Staphylococcus, responsáveis por infecções graves em ambientes hospitalares.

A descoberta representa uma nova esperança na batalha contra as super-bactérias, cujas propriedades de resistência aos antibióticos têm vindo a colocar desafios cada vez maiores à saúde pública. As infecções causadas por bactérias Gram-positivas, como Listeria, Staphylococcus, Enterococcus e Streptococcus, são uma das principais ameaças à saúde mundial, com impacto significativo na mortalidade e hospitalização, especialmente em populações vulneráveis.

O trabalho desenvolvido pelo i3S abre portas para uma nova geração de tratamentos que podem transformar o panorama das infeções bacterianas, proporcionando novas soluções no combate às infeções resistentes, um dos maiores desafios da medicina moderna.