A Associação Portuguesa de Jovens Farmacêuticos (APJF) entregou ao Governo um conjunto de propostas com impacto potencial em três áreas consideradas decisivas para o futuro do Serviço Nacional de Saúde (SNS): financiamento e contratualização, gestão do circuito de prescrição e dispensa de medicamentos, e utilização de inteligência artificial nos cuidados de saúde.

No domínio do financiamento, a APJF defende que a contratualização passe a reconhecer formalmente a intervenção farmacêutica, incluindo a realização de consultas farmacêuticas com indicadores de desempenho, a criação de programas para cedência de medicamentos em proximidade e a definição de metas de prescrição de genéricos e biossimilares, em linha com práticas adotadas em países como Alemanha, França e Reino Unido.

Já no que respeita ao circuito de prescrição e dispensa de medicamentos, a associação propõe a constituição de um grupo de trabalho multidisciplinar para rever os atuais procedimentos em ambulatório. Entre as medidas sugeridas estão a revisão do regime de renovação da terapêutica crónica, a promoção de uma comunicação estruturada entre médicos e farmacêuticos e a integração de ferramentas digitais de apoio à decisão clínica, com o objetivo de reduzir desperdícios, reforçar a segurança do doente e aumentar a eficiência do sistema.

O terceiro eixo de propostas está centrado na aplicação da inteligência artificial (IA). Inspirando-se nas recomendações do estudo europeu Study on the deployment of AI in healthcare, a APJF sugere a criação de laboratórios locais de experimentação em hospitais universitários. Estes centros seriam responsáveis pela avaliação independente de sistemas de IA, monitorização contínua da sua segurança e transparência, e pelo envolvimento de profissionais de saúde e decisores políticos em ciclos de melhoria contínua.

Para Lucas Chambel, presidente da APJF, “o SNS precisa de medidas que combinem inovação, proximidade e uso responsável dos recursos. As nossas propostas dão pistas claras para reforçar a qualidade dos cuidados e assegurar que Portugal acompanha as melhores práticas internacionais. Com vontade política e colaboração entre todos, estas ideias podem traduzir-se em melhorias concretas e rápidas para os cidadãos.”

Com este contributo, a APJF pretende estimular um debate construtivo sobre a modernização do SNS, apresentando soluções sustentadas na evidência científica e alinhadas com modelos internacionais de referência, que podem ser implementadas de forma faseada e sustentável.