Mais do que um manual de autoajuda embalado em clichés motivacionais, estamos perante um reflexo lúcido, por vezes incômodo, de uma sociedade que fez do medo o seu motor diário, e que pode levar a que fiquemos viciados em ansiedade.

Para tal, o especialista parte de um diagnóstico certeiro cuja conclusão revela que vivemos presos a uma economia da inquietação, onde o cérebro se habitua à tensão como quem se vicia num estímulo constante. A ansiedade, argumenta o autor, é reforçada pelo próprio sistema que a explora, falemos, por exemplo, da hiperconectividade digital ou da cultura da produtividade infinita.

Numa constante análise clínica, mas estrutural, “Viciados em ansiedade”, editado pela Arena , combina rigor científico com uma escrita acessível, próxima da experiência quotidiana, onde O’Kane fala com empatia, propondo uma reeducação emocional feita de consciência, prática e alguma coragem, enquanto rejeita soluções milagrosas ou moralismos.

Assim, entre exemplos clínicos e confissões pessoais, e falando diretamente para o leitor, o autor vai desmontando os mecanismos mentais que alimentam o ciclo ansioso – o pensamento catastrofista, a autocrítica permanente, a incapacidade de estar presente. E, através dessa filosofia, propõe um caminho que significa um retorno à humanidade, à pausa, à vulnerabilidade, à consciência do corpo, com a meta a ser uma vida mais calma e feliz.

Tome nota
«A ansiedade não é um processo a “preto-e-branco. É um processo de sinalização multifacetado que visa apoiá-lo, a curiosidade e a abertura à sua mensagem podem mudar a sua vida. Nunca deve encarar o seu eu ansioso como algo negativo. É apenas incompreendido.»
Owen O´Kane, psicoterapeuta e ex-diretor de serviços de saúde mental no Reino Unido, em “Viciados em ansiedade”