Mpox: estudo mostra que medicamento usado no último surto global da doença é ineficaz contra nova variante mais grave

Mpox: estudo mostra que medicamento usado no último surto global da doença é ineficaz contra nova variante mais grave

O antiviral tecovirimat, que foi amplamente utilizado para combater a mpox, não conseguiu reduzir a duração das lesões em crianças e adultos infetados com a variante do clado I de mpox na República Democrática do Congo.

Um medicamento utilizado durante o último surto global de mpox, ocorrido entre 2022 e 2023, revelou-se ineficaz contra uma variante mais grave do vírus, que se está a espalhar rapidamente em África, de acordo com investigadores norte-americanos.

O antiviral tecovirimat, que foi amplamente utilizado para combater a mpox, não conseguiu reduzir a duração das lesões em crianças e adultos infetados com a variante do clado I de mpox na República Democrática do Congo (RDC), conforme os resultados iniciais de um ensaio controlado por placebo, realizado por investigadores da RDC e dos Estados Unidos.

O clado I é uma variante mais perigosa da mpox — anteriormente conhecida como varíola dos macacos — em comparação com o clado II, que foi responsável pelo surto global em 2022. Esta variante está associada a uma doença mais grave e a taxas de mortalidade mais elevadas. Além disso, o clado I está a afetar de forma desproporcional as crianças, um fenómeno que não foi observado durante o surto de 2022, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma emergência global na quarta-feira.

“Estes resultados são dececionantes, mas fornecem-nos informações essenciais e reforçam a necessidade de identificar outros candidatos terapêuticos para mpox, enquanto continuamos a pesquisa sobre o uso de tecovirimat noutras populações afetadas pela mpox”, afirmou Jeanne Marrazzo, diretora do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA (NIAID).

O estudo apoiado pelo NIAID demonstrou, no entanto, que as mortes poderiam ser evitadas quando os pacientes com mpox eram tratados no hospital. Os investigadores inscreveram 597 pacientes com mpox, todos internados durante pelo menos 14 dias. A taxa de mortalidade — incluindo aqueles que receberam placebo — foi de 1,7%, em comparação com pelo menos 3,6% entre todos os casos na RDC, indicaram os investigadores.

“Isto mostra que melhores resultados entre pessoas com mpox podem ser alcançados quando estas são hospitalizadas e recebem cuidados de suporte de alta qualidade”, afirmou o comunicado dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH).

O fabricante do tecovirimat, a SIGA, também destacou que houve uma “melhoria significativa” nos pacientes tratados precocemente e com a doença mais grave. Embora não seja estatisticamente significativo, a SIGA acredita que os dados suportam a realização de mais ensaios nesses grupos. As ações da SIGA caíram mais de 40% após a divulgação dos resultados, mas recuperaram cerca de metade desse valor até à tarde de sexta-feira.

O tecovirimat está aprovado na União Europeia para o tratamento da varíola e da mpox, mas com base apenas em estudos com animais. A autorização foi concedida em “circunstâncias excecionais”, sem os dados clínicos de eficácia normalmente exigidos.

A Comissão Europeia adquiriu reservas do medicamento durante o surto de 2022-23, enquanto as autoridades no Reino Unido recomendaram o seu uso como opção para pacientes hospitalizados. Nos EUA, o medicamento também foi disponibilizado para alguns pacientes com mpox em 2022, como parte de estudos sobre a sua eficácia.