Superbactérias resistentes a medicamentos podem ter impacto maior do que a pandemia da Covid-19
A pandemia da Covid-19 “parecerá menor” em comparação com o que a humanidade enfrenta devido ao número crescente de superbactérias resistentes aos medicamentos atuais, alerta Sally Davies, ex-responsável médica do Reino Unido, citada pela publicação ‘The Guardian’.
A pandemia da Covid-19 “parecerá menor” em comparação com o que a humanidade enfrenta devido ao número crescente de superbactérias resistentes aos medicamentos atuais, alertou segunda-feira Sally Davies, ex-responsável médica do Reino Unido, citada pela publicação ‘The Guardian’.
A atual enviada especial do Reino Unido para a resistência antimicrobiana (RAM) pinta um quadro sombrio se o mundo não conseguir resolver o problema na próxima década, salientando que a questão “é mais aguda” do que as alterações climáticas – recorde-se que as infeções resistentes aos medicamentos já matam pelo menos 1,2 milhões de pessoas por ano.
“Parece que há muitas pessoas com infeções intratáveis, e teríamos de passar a isolar as pessoas que eram intratáveis para não infetarmos as suas famílias e comunidades. Portanto, é um quadro realmente desastroso. Isso faria com que a Covid-se parecesse insignificante”, explica Davies.
A RAM significa que algumas infeções causadas por bactérias, vírus, fungos e parasitas já não podem ser tratadas com os medicamentos disponíveis – a exposição aos medicamentos faz com que desenvolvam resistência, sendo que o uso excessivo de antibióticos acelera o processo. “Se não tivermos feito bons progressos nos próximos 10 anos, então estou realmente assustada”, diz Davies.
O Governo do Reino Unido anunciou, na semana passada, um plano de ação nacional sobre a RAM, com compromissos para reduzir a utilização de antimicrobianos tanto em humanos como em animais, reforçar a vigilância de infeções resistentes aos medicamentos e incentivar a indústria a desenvolver novos medicamentos e vacinas.
“Num mundo a recuperar do profundo impacto da pandemia da Covid-19, a colaboração internacional e a preparação para os desafios globais de saúde assumiram um nível de importância sem precedentes”, frisa Maria Caulfield, ministra da Saúde do Reino Unido
Uma em cada cinco mortes causadas pela RAM ocorre numa criança com menos de 5 anos, especialmente na África Subsariana, onde Davies disse que o problema é “particularmente prevalente e desastroso”. “Se não controlarmos e mitigarmos a RAM, esta matará mais pessoas antes que as alterações climáticas o façam”, sustenta. “O clima afetará de muitas maneiras, mas pense nas enchentes, pense no esgoto, pense nas deslocações, pense nas tempestades e no que elas espalham e na falta de água potável se houver seca; as infeções aumentam.”