Terapêutica com estatinas promissora no tratamento de doenças neurodegenerativas

As estatinas, fármacos destinados a reduzir os níveis de colesterol no sangue, estão a ser investigadas devido ao seu potencial no tratamento de doenças neurodegenerativas.

estatinas

As estatinas são fármacos indicados no tratamento da hipercolesterolemia (níveis de colesterol elevados no sangue) e prevenção de doenças cardiovasculares associadas a aterosclerose. A terapêutica com estatinas reduz o risco de enfarte agudo do miocárdio, o risco de acidente vascular cerebral (AVC) e a morte por doenças do sistema circulatório.

Adicionalmente, foi descoberto que as estatinas têm efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios e neuroprotectores, pelo que têm sido alvo de inúmeros estudos científicos em doenças neurodegenerativas, que são desencadeadas pela progressiva degeneração dos neurónios e subsequente morte neuronal, como o Alzheimer, Parkinson e Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). Neste sentido, a terapêutica com estatinas tem um efeito muito promissor no retardamento da evolução das doenças neurodegenerativas. Vários estudos clínicos revelaram o seu efeito neuroprotector nestas patologias. Contudo, há alguma controvérsia, sendo que há estudos que revelam que estes fármacos potenciam a degradação cognitiva, pelo que são necessários mais estudos de modo a desvendar se os potenciais benefícios superam os riscos da sua utilização.

Há estatinas lipofílicas que atravessam a barreira hematoencefálica, como a Atorvastatina e a Sinvastatina, e outras hidrofílicas que não atravessam, como a Rosuvastatina e a Pravastatina, sendo que os seus efeitos vão divergir consoante a sua solubilidade e penetração nas membranas celulares. Também têm sido estudadas associações de estatinas com fármacos utilizados nas doenças neurodegenerativas, como a Selegilina no tratamento do Parkinson, o que é beneficial na descoberta de novas terapêuticas. Estudos recentes em crianças revelaram que as estatinas podem ser muito promissoras em doenças neurológicas, cardiovasculares e oncológicas, tal como em situações de transplante em pediatria. Continuam a ser efetuados estudos para avaliar a segurança e a eficácia do uso de estatinas a longo termo, mas estas parecem ser bem toleradas e apresentar poucos riscos quando utilizadas em crianças. Contudo, o uso de estatinas em crianças é menos comum do que em adultos e necessita de uma monitorização e supervisão mais restrita por parte dos profissionais de saúde.

O Alzheimer é a doença neurodegenerativa mais comum a nível mundial, representando dois terços dos casos de demência, estimando-se que multiplique nos próximos anos devido ao envelhecimento da população. É uma doença neurodegenerativa crónica, cujo principal sintoma inicial é a perda de memória, sendo que vai agravando ao longo do tempo. A Associação Alzheimer Portugal apoia que a terapêutica com estatinas permite reduzir o risco de demência e perda de memória e melhorar a função cognitiva. Contudo, há estudos que revelam resultados contraditórios na cognição.

A doença de Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais comum, afetando milhões de pessoas a nível mundial. É uma doença degenerativa crónica do sistema nervoso central, que afeta maioritariamente a coordenação motora, ocorrendo geralmente em pessoas com idade superior a 60 anos, afetando homens predominantemente. Há estudos que defendem que as estatinas podem ter efeitos protetores contra o risco desta patologia. Contudo, outros estudos apoiam que a terapêutica com estatinas não está associada a um risco menor de desenvolver a doença de Parkinson.

A ELA é uma doença neurodegenerativa que afeta os neurónios motores, sendo a terceira mais frequente. Pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum numa idade mais avançada, e tem uma prevalência maior em homens. Estima-se o aparecimento de 300.000 casos em 2040, a nível mundial. Não existe tratamento para esta doença que tem uma progressão rápida, levando normalmente à morte 3 a 5 anos após o diagnóstico. Foi aprovado um medicamento nos EUA, o Riluzol, que parece diminuir as lesões nervosas e melhorar a qualidade de vida dos doentes, mas não permite reverter as lesões já existentes. Em 2007 a OMS declarou que o uso prolongado de estatinas poderia potenciar o risco desta doença. Contrariamente, estudos pré-clínicos e clínicos apoiam o efeito protetor das estatinas nesta neuropatologia.

As estatinas parecem ser uma terapêutica muito promissora nas doenças neurodegenerativas, mas são necessários mais estudos científicos para confirmar se são uma opção segura nestas patologias.