Organoides revolucionam a medicina e o desenvolvimento de novas terapêuticas 

Organoides revolucionam a medicina e o desenvolvimento de novas terapêuticas 

Organoides: o futuro da medicina. Descubra como estas estruturas 3D estão a transformar tratamentos para cancro, doenças cardiovasculares e neurodegenerativas, impulsionando terapias inovadoras.
Organóides do córtex cerebral. Cortesia do Laboratório Pereira, Universidade do Alabama em Birmingham.

Os organoides têm revolucionado a medicina nos últimos anos, abrindo caminho para avanços significativos em áreas como oncologia, doenças cardiovasculares, neurodegenerativas, pulmonares e intestinais.

Na última década, os investigadores têm vindo a desenvolver estruturas tridimensionais inovadoras chamadas de organoides. Estas estruturas são pequenos agregados de células estaminais capazes de reproduzir a arquitetura e a função de um órgão específico. Funcionando como modelos biológicos em miniatura, os organoides permitem investigar doenças complexas, como o cancro e doenças cerebrais, e testar novos medicamentos de forma mais eficaz.

A aplicação dos organoides na terapêutica é vasta. Estes têm sido utilizados no desenvolvimento de medicamentos para a fibrose quística, bem como em terapêuticas e vacinas contra a COVID-19 durante a pandemia. Por exemplo, organoides pulmonares facilitaram a identificação de novas terapias para doenças inflamatórias intestinais, entre as quais a Doença de Crohn, levando à descoberta do fármaco FXR314, desenvolvido pela Lilly. Este medicamento, que actualmente se encontra em ensaios clínicos, tem resultados previstos para o início do próximo ano e mostra-se promissor também em doenças hepáticas e possivelmente em oncologia.

Recentemente, organoides cerebrais foram enviados para a Estação Espacial Internacional com o objetivo de estudar os efeitos da microgravidade no desenvolvimento do cérebro humano.

Este estudo revelou que as células cerebrais amadurecem mais rapidamente no espaço, transformando-se em neurónios adultos. Este avanço poderá ser importante no desenvolvimento de terapias inovadoras para doenças neurodegenerativas.

Os organoides têm também um impacto transformador na Indústria Farmacêutica. Em outubro de 2024, investigadores do Instituto Superior Técnico desenvolveram mini-órgãos, como rins, coração e cérebro, para testar a eficácia de novos medicamentos. Esse método não só acelera o processo de desenvolvimento de terapêuticas como permite uma avaliação mais eficiente e precisa.

Apesar do potencial dos organoides, há desafios a superar. Uma das principais limitações é a ausência de um sistema de vascularização completo, o que impede uma distribuição eficiente de oxigénio e nutrientes para todas as células, comprometendo a maturação e crescimento dos organoides.

No entanto, estudos recentes apontam para soluções promissoras. Investigadores da Stanford Medicine, liderados por Abilez et al., publicaram na revista Science um método inovador para criar organoides cardíacos e hepáticos vascularizados, utilizando células estaminais pluripotentes. Este avanço não só permite um maior crescimento dos organoides como melhora significativamente a sua maturação, transformando-os em modelos biológicos mais reproduzíveis. Este método poderá ter um impacto considerável nas terapias regenerativas.

A Stanford Medicine também está na vanguarda dos ensaios clínicos, com Wu et al. a liderar estudos que consistem na injecção de células cardíacas criadas em laboratório em pacientes com disfunção cardíaca.

No futuro, organoides cardíacos vascularizados derivados de células do próprio paciente poderão ser implantados cirurgicamente, substituindo tecidos danificados.

Graças à vascularização integrada, esses organoides poderão conectar-se ao sistema circulatório do paciente, aumentando a sua taxa de sobrevivência. Além disso, os organoides vascularizados prometem benefícios terapêuticos em várias outras áreas da Medicina, e não apenas cardiovasculares.

Esta área de investigação continua em plena expansão, revelando-se uma aposta promissora para a medicina moderna e para a descoberta de novos medicamentos e terapias inovadoras.