Beatriz Adão, da Farmácia Comunitária para a Indústria em três tempos

Beatriz Adão, terminou o curso com 22 anos e após uma breve passagem pela Farmácia Tanara, num centro comercial em Odivelas, deu o salto para a área do Marketing e Comunicação na multinacional Siemens Healthineers.

Beatriz Adão manteve várias actividades paralelas enquanto estudante do MICF.

Ciências Farmacêuticas foi a primeira opção no concurso de acesso à Universidade?

Soube desde muito cedo que queria seguir a área da Saúde, com foco na Tecnologia. A minha mãe é Médica Dentista e o meu pai é Engenheiro Informático, por isso, de maneira consciente ou inconsciente, a vida levou-me a optar por um “mix”, porque nenhuma de ambas as opções me puxava a 100%: não queria ir para Engenharia porque sentia o meu propósito mais ligado à Saúde, mas acreditava “não ter estômago” para Medicina por considerar demasiado invasivo – sangue e cirurgias sempre me fez um pouco de confusão. Lembro-me que me interessava ainda por Engenharia Biomédica, Engenharia Química, Engenharia de Nanopartículas, e Pediatria, mas segui o meu instinto e optei por Ciências Farmacêuticas. Vi no curso de Ciências Farmacêuticas a solução para as questões que pairavam na minha cabeça. Terminei o ensino secundário no Colégio Manuel Bernardes, com média de 17,4, sendo 14,6 valores a nota do último colocado no Mestrado Integrado de Ciências Farmacêuticas, no ano anterior ao do meu ingresso, sentia que podia, finalmente, respirar: já não havia volta a dar, era o vai ou racha, tudo dependia daqueles 3 números que refletiam os 3 intensos anos de ensino secundário.

Quais eram as expectativas?

Inicialmente, a minha expectativa era seguir Investigação. Rapidamente, com o decorrer do curso, apercebi-me das expectativas irrealistas, uma vez que esta área não correspondia ao meu perfil. Porquê? Eu era um zero à esquerda às cadeiras de Química Orgânica e Química Farmacêutica: esta falta de aptidão foi um banho de água fria que me despertou do meu sonho hipotético. E lembro-me de pensar “posso não saber, ainda, aquilo de que gosto, mas, pelo menos, sei aquilo de que não gosto”. Voltando à estaca zero, sem qualquer interesse específico por alguma das opções de carreira pós-Faculdade, lembro-me que o meu trigger foi pensar “daqui a 5 anos somos cerca de 200 alunos a sair da Faculdade, todos com o mesmo diploma e título de Farmacêutico, eu tenho de me destacar, eu não quero ser só mais um”.

E foi assim, num abrir e fechar de olhos, que comecei a explorar oportunidades que me permitissem mergulhar numa realidade diferente da que moldava o perfil de maior parte dos alunos – a adrenalina de fugir à normalidade e sair da zona de conforto. Como? Conciliar os estudos da Faculdade com diversos projetos extracurriculares, nomeadamente Speak & Lead, LisbonPH, Farmácia Comunitária (Farmácia da Luz e Farmácia Tanara Strada), Farmácia Hospitalar (Hospital do S.A.M.S.), workaway (internacional), voluntariado (nacional), e desporto (ginásio e karaté federado).

Durante estes anos, desenvolvi um perfil versátil, que resulta da combinação do meu conhecimento técnico e científico enquanto Farmacêutica, com o meu background em Marketing, Sales & Communications, e aliado a um profundo sentido de responsabilidade social, o que me permite compreender a complexidade da realidade da Indústria Farmacêutica e, simultaneamente, ser capaz de me adaptar e aprender rapidamente de forma a criar um impacto significativo e contribuir positivamente independentemente da equipa ou projeto que integre.

E a seguir ao curso?

No que concerne à imagem do Farmacêutico em Portugal, a minha expectativa alterou-se quando mergulhei na realidade extra-faculdade. Foi em especialmente durante o período em que trabalhei em Farmácia Comunitária que me apercebi de que a “vida não é um mar de rosas”. O que eu mais desejava era ser reconhecida pela sociedade como uma Profissional capaz, que aporta valor à área da Saúde, em particular através do aconselhamento Farmacêutico. Como não senti que esta minha expectativa tinha sido totalmente correspondida, com 22 anos saí da Faculdade já com um objetivo muito claro em mente: dar o salto para a Indústria na área da Saúde.

Agora quero explorar oportunidades de progressão na carreira e continuar a sentir-me desafiada pelo desconhecido, a integrar novos projetos, e a conhecer novas pessoas – basicamente quero um futuro estável, mas evitando, a todo o custo, estagnar – não suporto a ideia de comodidade, sei que há sempre margem para ser mais e melhor. Posto isto, pretendo continuar a investir em mim mesma: o meu mindset está orientado para ser a melhor versão de mim mesma em tudo aquilo que faço – por mim, pela empresa em que trabalho, pelas equipas que integro, pelas pessoas com quem interajo – e, claro, assim ser reconhecida pelo meu trabalho por “trazer para a mesa” o meu verdadeiro potencial. E se há algo de que eu gostaria de não “abrir a mão” seria o continuar a ser reconhecida pela minha formação base: sou Farmacêutica, com muito orgulho.

Por que motivo decidiu trabalhar na área dos Dispositivos Médicos?

O meu critério principal, que está conectado diretamente com o meu propósito, sempre foi trabalhar em prol da melhoria da área da Saúde. E os Dispositivos Médicos correspondem a este critério. Lembro-me de conversar comigo mesma, ao candidatar-me à vaga da Siemens Healthineers: “Vou-me aqui atirar aos leões, quem sabe, atiro o barro à parede e logo se vê, tenho de acreditar que não há nada que eu não consiga fazer, por isso, why not?” – e com isto dei um mergulho de cabeça, enviei a candidatura e entusiasmada com a possibilidade de integrar a Siemens Healthineers, uma multinacional com enorme potencial de crescimento e perspetivas promissoras para o futuro, e em que, com enorme gratidão, trabalho atualmente.

Como decorreu o processo de candidatura?

Como sabemos, o processo de procura de emprego, e, consequentemente, de envio de candidaturas e receção de feedback, é moroso e, inclusive, frustrante. Apesar de considerar que tinha um currículo diferenciador, com uma forte componente de hard skills e soft skills, estive vários meses à procura de emprego, tanto para empresas em Portugal, como no Estrangeiro, e em inúmeras fui rejeitada sem sequer marcação de entrevista – a verdade é que, com 22 anos, senti que dar o salto de Farmácia Comunitária para a Indústria é um desafio, a esmagadora maioria é rejeitada logo à partida: as oportunidades são escassas para o número de recém-formados, pelo que a afluência de candidatos por vaga é absurda, o que torna ainda mais difícil sobressair, tendo em conta o elevado nível de competição. Acabei por me mentalizar de que é um processo normal, que maior parte das pessoas experienciam, e que não está relacionado propriamente com o perfil de cada candidato, mas sim com uma questão de oportunidade, de empatia, de “estar no local certo à hora certa” – o que tiver de ser, será.

Na Faculdade, eu tinha uma expectativa completamente diferente, porque nos é transmitido que a taxa de empregabilidade do nosso curso é acima de 95%. Refletindo agora sobre este número, acredito que espelhe a vagas disponíveis em Farmácia Comunitária. Realmente é rara a Farmácia em Portugal que não apresenta carência de Profissionais de Saúde. Adicionalmente, não é com total transparência que se aborda o salto da Farmácia Comunitária para a Indústria: as barreiras aquando das candidaturas; o perfil de candidato; as competências para que ocorra o “match”; os desafios de integração. Tudo isto contribuiu para um loop de “Então mas a taxa de empregabilidade não era quase 100%? Porque é que não estou a conseguir dar o salto? O que é que está aqui a falhar?”. Infelizmente, por estes e certamente outros motivos, muitos colegas descartam esta hipótese de carreira e deixam “cair por terra” o desejo de exercer a sua prática na Indústria.

O meu processo de candidatura à Siemens Healthineers iniciou-se com o envio da minha candidatura via LinkedIn para a vaga de “Quality Trainee”. Sinceramente o meu desespero já me consumia: não era o cargo em que me idealizava, mas era uma das empresas em que me imaginava. Durante a entrevista, a conexão a nível de empatia fez-se sentir de forma muito notória. Sinto que a equipa da Siemens Healthineers reconheceu em mim a grande paixão que nutro pela área da Saúde. E acredito que este tenha sido o fator-chave que fez toda a diferença. Na Siemens Healthineers somos guiados pelo nosso propósito e valores, sendo que todos os Healthineers trabalham diariamente para a construção do futuro da saúde em Portugal – e eu alinhava-me com este propósito, como se pertencesse à equipa desde sempre. Mas com 22 anos, eu só precisava de alguém que acreditasse em mim e me desse uma oportunidade de demonstrar o meu contributo e o valor que sou capaz de acrescentar. Apesar da ótima dinâmica da entrevista, informaram-me de que o meu perfil não fazia o matching com a vaga “Quality Trainee” (vaga a que me tinha candidatado), mas que me tinham alocado à vaga “Marketing & Communications Trainee” (vaga a que eu não tinha concorrido). Foi neste momento que eu me apercebi do impacto da entrevista inicial. A Siemens Healthineers via em mim uma (possível) futura Healthineer. Eu senti genuinamente que me queriam a mim. Que era comigo que queriam trabalhar. No meio de centenas de candidaturas, eu tinha uma empresa multinacional, mundialmente reconhecida, a lutar por mim – a cultura de reconhecimento e valorização da Siemens Healthineers fez-se sentir ainda sem eu sequer fazer parte da equipa.

Entretanto reuni, novamente, para entrevista, mas desta vez com a responsável pela equipa de “Marketing, Sales & Communications”, atualmente a minha Manager, que recebeu de braços abertos a minha bomba de intensidade, a minha rapidez exagerada por falar com entusiasmo, e os meus “pontos a melhorar” como se fossem as minhas maiores virtudes. Coincidência ou não, aceitei a proposta da Siemens Healthineers no dia do meu aniversário, uma prenda de 23 que nunca esquecerei! Continuo grata às pessoas que fizeram a ponte dentro da organização para que, também eu, seja, até hoje, uma Healthineer, e que acreditaram em mim, tanto pelo meu currículo, como também pelo meu sorriso de entusiasmo e pela minha paixão pela área da Saúde.

Beatriz em representação da Siemens Healthineers

Quais são os principais atractivos desta área para os Farmacêuticos?

Por um lado, através da prática de Farmácia Comunitária, os Farmacêuticos adquirem várias competências que são aplicáveis na Indústria – técnicas de venda de cross-selling, colaboração e comunicação, espírito de equipa, capacidade de adaptação, atendimento ao cliente, capacidade de trabalhar sob pressão, gestão e logística –, o que facilita no processo de adaptação. Por outro lado, desde o Trainee ao Jubilee, trabalhar na Indústria, e em especial em empresas multinacionais na área da Saúde, as oportunidades de crescimento e de aprendizagem contínua são uma constante, seja relacionado com o background académico, ou não (Marketing, Sales & Communications; Human Resources; Quality & Regulatory; Legal & Compliance), e o salário e os benefícios que acompanham a progressão de carreira são interessantes. Queria ainda acrescentar que o próprio ambiente vivido na Siemens Healthineers é um mundo por si só: flexibilidade horária; regime de trabalho híbrido (presencial e teletrabalho); possibilidade de transferência para outro país; contacto com diferentes culturas e perfis; progressão de carreira com inúmeros cargos e funções.

E as dificuldades?

Sendo o Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas um curso extremamente teórico e construído com foco (principalmente) nas saídas profissionais de Investigação, Farmácia Comunitária e Farmácia Hospitalar, ao ingressar no mercado de trabalho na área da Indústria, os recém-formados podem sentir-se como “peixinhos a nadar no tanque dos tubarões”, especialmente no caso de empresas multinacionais, em que o contexto corporativo difere totalmente do ambiente vivido, a título exemplificativo, na Farmácia Comunitária. Uma vez mais, relembro-me que o meu trigger foi pensar “eu tenho de me destacar, eu não quero ser só mais um”. Por este motivo integrei inúmeros projetos e equipas (coordenar e participar num podcast, dar uma formação para todas as Júnior Empresas a nível nacional, trabalhar no estrangeiro, ações de voluntariado), pertencer a diversas empresas e organizações (Speak & Lead, LisbonPH, Farmácia Tanara, Farmácia da Luz, Hospital SAMS, Dentalpower), ser promovida a vários cargos (desde Embaixadora a Team Leader), desempenhar as mais variadas funções (desde Content Creator a Corporate Training Specialist, Comercial & Sales, e Farmacêutica Comunitária), ser reconhecida com prémios e distinções (Olimpíadas das Ciências Farmacêuticas, Team of the Month, Ambassador of the Month) – no fundo, durante os 5 anos de curso, eu investi em mim com o intuito de retirar o máximo proveito do meu verdadeiro potencial e explorar as minhas capacidades, aptidões, preferências e interesses.

Um dos maiores desafios de trabalhar numa multinacional, é o ritmo acelerado de trabalho. A realidade é intensa, porque o comboio não para, nós temos simplesmente de saltar, apanhá-lo e não cair no caminho, uma vez que toda a gente está a contar connosco – pus aqui em prática o “learn on the go”, competência que desenvolvi, especialmente, através da minha prática em Farmácia Comunitária.

Refletindo sobre as minhas decisões, acredito que se eu tivesse optado por dedicar a minha atenção apenas e exclusivamente aos estudos, teria sido, certamente, ainda mais complicado dar o salto para a Indústria, ou até mesmo, quem sabe, impossível, dada a enorme lacuna do curso no que se refere ao desenvolvimento de soft skills (indispensáveis no mundo laboral) – versatilidade, adaptabilidade, proatividade, comunicação, gestão de tempo, rápida resolução de problemas através da adoção de soluções práticas, realistas e eficazes, e análise crítica da urgência e do impacto de determinado problema ou imprevisto (uma vez que no mundo corporativo tudo é prioritário). Assim, creio que o maior desafio consiste em tornar as competências que vamos adquirindo ao longo da nossa vida pessoal e profissional numa parte integral do nosso perfil, de forma a acrescentar valor.

Como é o seu dia-a-dia no trabalho?

Todos os dias são diferentes, nunca sei exatamente o que me espera. Claro que tenho tarefas atribuídas, mas durante o dia surgem sempre imprevistos, pedidos de colaboração por parte de colegas, temas urgentes que requerem atenção imediata, enfim… começo cada dia com a lista de tarefas do dia anterior, mas tendo consciência que durante as seguintes 8 horas de trabalho a lista vai mudar radicalmente. Na dinâmica de uma multinacional, é comum tudo o que chega até nós ser intitulado como urgente, pelo que acontece, com bastante regularidade, começar o dia com X tarefas e acabar o dia com essas mesmas X tarefas por concluir, mas, lá pelo meio, entre segundos, minutos e horas contadas pelos ponteiros do relógio, foi um rebuliço tal de vai e vem de tarefas, que, normalmente quando a lista, ao final do dia, parece intocável, quer dizer que estive tapada de trabalho.

Para além disso, ao contrário do que acontecia na Farmácia Comunitária, em que cada tarefa era concluída num curto espaço de tempo (tarefas diárias) – aconselhamento farmacêutico, verificação do stock de produtos, logística de armazém, preparação de encomendas para entrega ao domicílio, atendimento via telefonema, contagem do dinheiro da caixa –, na Siemens Healthineers há situações que não se resolvem no próprio dia. Cada projeto tem associado a si sub-tarefas, algumas diárias, outras a médio e longo-prazo, visto que há projetos em que o acompanhamento se dá durante várias semanas. E, na equipa de Marketing, Sales & Communications, o que eu sinto é que mesmo quando despacho uma tarefa, muitas das vezes, o sentimento de “check” é apenas uma ilusão, porque já sei que mais dia menos dia a tarefa regressa à minha “checklist” – é um género de ping-pong, em que cada tarefa pode rodar por várias pessoas, equipas, e/ ou fornecedores e clientes, até se dar por concluída. Aqui o desafio é manter todo este sistema devidamente informado dos “deadlines”, “na mesma página”, e a par do ponto de situação com os respetivos “updates”, para que haja uma gestão eficaz das expectativas do projeto e, claro, um resultado final que corresponda a essas expectativas.

Beatriz Adão numa das suas viagens
Beatriz Adão pratica Karaté desde a infância

E nas horas livres?

O ritmo numa multinacional é realmente acelerado e acarreta muita pressão, stress que pode ser complicado de gerir se não for canalizado, no meu caso, através do desporto. Desde os 7/8 anos que me dedico ao Karaté federado. Eu costumo dizer que Karaté não se pratica, vive-se. Sinto os treinos como o tempo para “me, myself and I”. É, sem dúvida, o meu escape da realidade profissional. E tudo isto se transpõe da vida pessoal para a vida profissional, e vice-versa: compromisso, propósito, disciplina, persistência, autocontrolo, espírito de equipa, auto-motivação. No meu tempo livre, aproveito ainda para me dedicar à escrita, algo em que invisto desde que me lembro, por realmente me fascinar o quão organicamente as palavras saltam da minha cabeça para o papel, esvaziando a minha mente e expressando por letras o que dito não me sai de modo tão natural.

A Farmácia Comunitária permite uma interacção diária e desafiante com os utentes. Como foi a sua experiência em Farmácia Comunitária?

A Farmácia Tanara foi, para mim, uma verdadeira escola. Durante 6 meses, trabalhei em Farmácia Comunitária, no Strada, em Odivelas. E foi uma experiência incrivelmente gratificante. Com 22 anos, é, sem dúvida, um desafio transmitir uma imagem profissionalmente credível. Tornei-me consciente das minhas capacidades, aceitando que é impossível – ainda na Faculdade, e em fase de estágio, sem qualquer prática em aconselhamento farmacêutico – saber tudo “do dia para a noite” – a realidade é o “learn on the go”. Após “me cair a ficha”, comecei, então, a comunicar abertamente as minhas questões e dúvidas, sem me sentir vulnerável. Com uma equipa disponível para me transmitir tudo aquilo que eu quisesse aprender, e eu disponível para absorver tudo o que me quisessem ensinar, passo a passo, tornei-me segura e confiante das minhas hard skills e soft skills (ao ponto de já “não tremer” cada vez que chamava por uma nova senha ao balcão da Farmácia), apesar da pressão constante e responsabilidade que acarreta “ter em mãos a saúde e qualidade de vida de pessoas” – ou, pelo menos, era assim que eu me sentia, sabendo que não há qualquer margem para erro quando se trata de pessoas reais, com vidas, familiares e amigos reais – isto já não era a realidade hipotética construída pelos casos clínicos apresentados na Faculdade. A dinâmica de uma Farmácia de centro comercial difere da dinâmica de uma Farmácia de bairro. Maior parte dos utentes com quem contactava estavam de passagem pelo Strada e provavelmente só tinham ido à Farmácia Tanara porque naquele dia fazia sentido logisticamente na sua vida: na generalidade dos casos, não havia o vínculo do “cliente habitual” que procura na Farmácia do seu bairro, mais do que Profissionais capazes e competentes, um ombro amigo. Assim, aprendi a criar empatia em breves minutos (independentemente do perfil que surgisse à minha frente), de forma a que o utente se sentisse, por um lado, ouvido, e, por outro, à vontade para partilhar comigo informação que me permitisse a mim ajudá-lo. Aqui o maior desafio foi acompanhar o ritmo acelerado do Strada, com uma enorme exaustão física e psicológica, com os turnos loucos, sábados e domingos sem sabor a fim-de-semana, para além do curso e tese académica, e da vida pessoal – não há um “botão de pausa”.

Quais são os melhores aspetos que recorda?

A equipa. Sendo eu “uma pessoa de pessoas”, o que mais me tocou na minha experiência em Farmácia Comunitária, no Strada, foi, sem dúvida, a humanização da equipa Tanara. No meio do caos que reinava durante o dia-a-dia, a equipa fazia com que o espírito de equipa não desvanecesse: nem que fosse uma troca de piada entre os atendimentos, ou a partilha de uma história nos segundos após a chamada de senhas, ou inclusive um desabafo nas breves pausas. A conexão com a equipa foi instantânea, o meu perfil extrovertido e “easy-going” despertou após os primeiros dias na Farmácia, e o consequente “match” da minha personalidade com o sentido de humor e espírito “open-mind” da equipa fez realmente a diferença na minha integração. Recordo, e valorizo, a existente, mas ténue linha que separava a vida profissional da vida pessoal. Trabalhar por turnos, e em atendimento ao público, é desafiante: sábados parecem segundas-feiras, domingos já não sabem a fim-de-semana, feriados são só mais um dia igual a tantos outros, e torna-se difícil distinguir um snack de um almoço às 11H ou um lanche de um jantar às 18H. Eu olhava com inspiração para os meus colegas de equipa: eram o exemplo que eu queria seguir. Terminei o estágio em Farmácia Comunitária com a nota máxima, um reconhecimento por parte da minha equipa que continuo a recordar com gratidão. Ciente que 20 valores reflete o meu empenho, dedicação e vontade de aprender, devo esta classificação em grande parte à minha equipa, por ter, desde o primeiro dia, acreditado que eu tinha potencial para acrescentar valor à Farmácia. Entretanto, ao acabar o estágio, fui convidada a trabalhar na Farmácia Tanara – com 22 anos, surgia, assim, a minha primeira oportunidade no mercado de trabalho na área de Ciências Farmacêuticas.

Mantenho, ainda hoje, o contacto com vários colegas da Farmácia Tanara: vou aos jantares de equipa, faço questão de passar pela Farmácia cada vez que vou ao Strada, seja para um “olá” seguido de um abraço seja para animar o dia com um miminho (a minha “imagem de marca” são os petit-gâteaux – e agora, também na Siemens Healthineers, ainda hoje, tenho pessoas que nem nunca conheci pessoalmente a virem ter comigo e perguntarem-me “tu és a menina que fez os bolinhos de chocolate, não és?”). Acredito que, apesar de termos seguido caminhos diferentes, somos todos colegas, e que, por isso, devemos nutrir as relações que vamos criando ao longo das nossas várias experiências profissionais, no sentido de recordarmos estes momentos não com saudade (porque continuam presentes na nossa vida), mas com nostalgia.

E as dificuldades?

Após ter aceite o convite para trabalhar oficialmente na Farmácia Tanara, a minha vida tornou-se (ainda mais) caótica. Já era desafiante acompanhar o ritmo, só por si, acelerado do Strada, e, como referi, gerir a acumulada exaustão física e psicológica, derivada dos turnos loucos, com sábados e domingos sem sabor a fim-de-semana, em simultâneo com o curso e tese académica, para além da minha vida pessoal, e, adicionalmente, ainda iniciava o meu estágio em Farmácia Hospitalar. Portanto, os meus dias de semana resumiam-se a 6H de trabalho no Hospital do S.A.M.S, seguidas de 4H de trabalho na Farmácia Tanara, com pausas de almoço dedicadas à tese académica e ao Projeto de Apresentação Hospitalar (mais um bónus), e os meus dias de fim-de-semana resumiam-se, de um modo geral, a 8H de trabalho na Farmácia Tanara. Era um loop em “non-stop” – sem o tal “botão de pausa”. E a verdade é que desafios são oportunidades, não é clichê: gestão de tempo, inteligência emocional, e multitasking sob pressão – 3 competências-chave que adquiri ao “viver no limite” e segundo um regime de “learn on the go” (“ser lançado aos lobos” e aprender a desenrascar-me de qualquer tipo de situação sem ter “a papinha toda feita e escarrapachada” de como agir em cada situação) e “hands-on” (privilegiar a aprendizagem prática, em detrimento da somente teórica).

Lembro-me de pensar “Não reconheço em mim a Beatriz que entrou há uns meses por aquela porta da Farmácia”. A experiência em Farmácia Comunitária foi um autêntico boost no meu desenvolvimento pessoal e profissional, eu sentia-me irreconhecível (numa conotação positiva). Realmente, os Farmacêuticos saem da Faculdade com sólidos conhecimentos teóricos a nível técnico e científico, mas… de que serve a teoria sem a prática? O verdadeiro desafio reside em traduzir a informação bruta (arrumada em inúmeras pastas na nossa cabeça) para a prática: o utente queixa-se de tosse com expetoração. Ups, e agora? Calma, até sabemos as substâncias ativas que atuam na expetoração. Sabemos inclusive o metabolismo e mecanismo de ação. Às vezes até identificamos a fórmula química, mas no meio de (o que parecem) infinitas opções de medicamentos, sabemos qual escolher? E se o utente quer o genérico? Sem esquecer do sorriso na cara, tempo de atendimento, preferências do utente, contraindicações, e relação custo-benefício (para o utente e para a Farmácia) – é um mundo interminável de dúvidas que ressoam na cabeça de um recém-formado – é o nosso primeiro trabalho e temos de enfrentar o mundo real.

Que medidas tomava para melhorar a prática na Farmácia Comunitária?

Há que colocar a pessoa no centro. Como? É urgente alterar a perceção (infelizmente) generalizada de que a Farmácia é um espaço de doença. Não, a Farmácia é um espaço de saúde, os Farmacêuticos são a porta do SNS e desempenham um papel crucial na educação do utente e geral promoção da saúde. Este “shift 360º” é urgente para alterar a maneira como os utentes abordam os Farmacêuticos e, consequentemente, como encaram o aconselhamento farmacêutico (promovendo a adoção de um estilo de vida saudável e uma maior a adesão à terapêutica). Apostar, cada vez mais, e passo a passo, no aconselhamento farmacêutico personalizado – cada utente é único, e o que funciona para um, pode não funcionar para outro –, e assegurar um acompanhamento contínuo e orientado para uma compreensão holística da Saúde do utente, medida fundamental na promoção de uma abordagem mais abrangente e proativa em que cada pessoa é responsável pela própria gestão da sua saúde. Querer evoluir para este “mindset” é importante e nunca foi tão necessário, num mundo em que cada vez mais até perfis aparentemente saudáveis, sem prever, apresentam (ao que parece) “do dia para a noite” problemas de saúde – há que prevenir, em detrimento de remediar.

Através de uma comunicação próxima, empática, atenta, e com acesso a uma só plataforma integrada que reúna os dados clínicos de cada utente – histórico clínico (prescrições, regimes de terapêutica, cirurgias, hospitalizações, vacinações), histórico familiar (doenças hereditárias e predisposições genéticas), histórico de estilo de vida (dieta, atividade física, consumo de tabaco, drogas e álcool), resultados de análises e exames (pressão arterial, glicemia, colesterol) – é possível atuar precocemente, numa perspetiva de prevenção potenciais complicações de saúde. Adicionalmente, há que apostar na formação e educação dos Profissionais de Saúde, com base num regime de melhoria contínua, investindo no desenvolvimento de hard skills (conhecimento técnico e científico) e softs kills (comunicação, gestão de tempo, liderança, “cross-selling”, negociação & vendas, gestão de “budget”) ao longo de todo o percurso da carreira do Farmacêutico.

E o funcionamento do sistema de saúde em Portugal?

Acredito que melhorar o funcionamento do SNS em Portugal passa pela adoção de uma abordagem abrangente, holística e colaborativa: olhar para o SNS como um puzzle em que cada Profissional de Saúde, independentemente da área de especialidade, aporta valor à sociedade, e em que a formação de uns complementa as lacunas da formação de outros, criando, assim, uma equipa multidisciplinar que trabalha diariamente em prol de um propósito comum: a melhoria da Saúde no nosso país. O Governo deve, então, apostar na criação de políticas de saúde que incentivem a sinergia colaborativa entre os diversos setores, com participação ativa dos Profissionais de Saúde, uma vez que, derivado da sua experiência, fornecem insights de valor que garantem que as políticas sejam viáveis e eficazes na prática, e não só na teoria. Resumidamente, há que valorizar os Profissionais de Saúde, reconhecendo-os como Profissionais essenciais na manutenção dos níveis de saúde e bem-estar da sociedade. No seguimento desta lógica, é extremamente necessário, portanto, oferecer formação contínua, condições de trabalho adequadas, oportunidades de progressão na carreira, e mérito pelo desempenho, de forma a reter os Profissionais – assim capazes, motivados e com foco na excelência dos serviços – na área da Saúde.

Por outro lado, num mundo em constante e rápida transformação, em que ferramentas de inteligência artificial abrem novos horizontes de evolução científica, nunca foi tão urgente investir em inovação tecnológica e digitalização da Saúde, com vista à melhoria do acesso e da qualidade da prestação de cuidados de saúde, inclusive em áreas descentralizadas do nosso país.

Quais foram as situações mais difíceis que presenciou em contexto laboral?

Eu considero-me uma “pessoa de pessoas”, e, ainda assim, devo dizer que a minha experiência em Farmácia Comunitária me pôs à prova, inúmeras vezes. Apesar de ter integrado uma equipa para lá de excecional – a quem devo o verdadeiro significado de ser Farmacêutica –, e embora me tenha sentido concretizada e conectada com o meu propósito: estar próximo das pessoas que eu quero ajudar, por inúmeras situações senti-me desvalorizada, descredibilizada, desrespeitada e inclusive questionada por quem eu tentava, sempre, ajudar. Atendimento ao público não é “flor que se cheire”. Apesar do meu espírito descrito como uma “lufada de ar fresco” pelos meus colegas de equipa, após alguns meses de trabalho, também eu atingi o meu limite de saturação e exaustão – manter o equilibro físico, psicológico e emocional é extremamente desgastante.

A verdade é que a sociedade rotula com desmérito, consciente ou inconscientemente, quem trabalha “atrás do balcão”. Senti que os Farmacêuticos têm uma fama falaciosa, que descredibiliza a responsabilidade dos Profissionais de Saúde, sem merecido reconhecimento por parte de quem mais ajudam diariamente (claro não generalizando, mas também sem deixar de “abrir os olhos” para a realidade que vivemos na nossa profissão – “A menina tem sequer formação ou para atender ao balcão não é necessário?” “Que idade é que você tem? Não é melhor ir perguntar à sua colega a opinião dela?” “A médica não me mandou tomar isto, tem a certeza de que é o que está na receita?” “Se eu lhe digo que quero X medicamento, a menina só tem é de me dar, não tem nada que fazer perguntas” “O colar que a menina traz hoje é tão infantil, você já é nova, ainda fica mais infantil”).

Gerir o nível de complexidade destas situações é complicado: há que agir profissionalmente, mas “bater o pé” sempre que necessário, porque nem tudo é aceitável e admissível só por estarmos “atrás do balcão” – as pessoas esquecem-se de que somos todos seres humanos. Sempre que senti a minha integridade e dignidade pessoal e/ ou profissional afetada, agi em conformidade. Infelizmente, senti que a Farmácia ainda é vista, por muitos, como um local associado à “doença” e que tem de seguir o método de “aconselhamento rápido, estilo toca-e-foge”, em detrimento de um local de Saúde e a porta para o SNS.

Na Siemens Healthineers, creio que o meu maior desafio foi posicionar-me na organização como uma profissional credível. Tendo apenas 23 anos quando entrei para o contexto de empresa multinacional, o meu foco foi transmitir – através do meu trabalho, dedicação e paixão – que, apesar do título “Trainee”, eu tinha capacidade para acrescentar valor à empresa. Tenho a sorte de estar numa empresa com uma cultura organizacional saudável e sustentável, por reconhecer e valorizar cada colaborador pela pessoa que é e pelo seu potencial, pelo que a equipa nunca me fez sentir propriamente “Trainee”, mas sim, desde o primeiro dia, uma verdadeira Healthineer. Para além deste ponto, foi também interessante lidar com diversos perfis de colegas, muitos que já contam com vários anos experiência, que já têm opiniões “bate-pé” acerca de X e Y tema, e uma maneira muito própria de trabalhar. No entanto, a Siemens Healthineers é uma empresa “open-minded”, em que se nota genuinamente o espírito colaborativo das pessoas e em que o compromisso para com o nosso propósito comum fala mais alto, em detrimento dos interesses pessoais.

Numa altura em que há muitos licenciados a sair do país, tem pensado nesta hipótese? Já recebeu algum tipo de proposta?

Já recebi, sim, outras propostas, a nível internacional, mas tenho tendência para manter essas propostas como um plano B, porque ao fazer o balanço do que é realmente importante para mim, acaba sempre por pesar mais o viver no meu país, Portugal, próximo da minha família, com o meu namorado, junto dos meus amigos, sem esquecer a incrível comida e as condições meteorológicas invejáveis, para além das relações profissionais que já construí cá e que valorizo. É uma análise muito pessoal, e também muito volátil, mas ainda não o suficiente para dar esse salto. Dizem que a felicidade não paga as contas… mas já tiveram um trabalho em que cada dia era um castigo? Eu já. Eu não excluo o meu bem-estar da equação. E quando se está longe de quem mais se ama, este sentimento pode realmente interferir com a nossa saúde mental, emocional, física, e até monetária.

Como vê a evolução da profissão farmacêutica em termos globais?

Num mundo em constante transformação, o setor da Saúde tem de se adaptar “à velocidade da luz” à nova realidade. Quero acreditar que, no futuro, os Farmacêuticos vão ter um papel mais ativo e um contributo mais palpável no SNS, com intercolaboração entre diversos profissionais de saúde. Dando um exemplo concreto, o tema da administração de vacinas contra a gripe e contra o COVID-19, é um ponto em que é estratégico apostar na colaboração para aliviar o SNS e, assim, em conjunto, melhorar a Saúde em Portugal. Por outro lado, as tecnologias continuarão a ser o “hot topic”, com a digitalização da Saúde a ser um fator “game changer” na mudança radical da Indústria da Saúde, e que trará, certamente, um enorme contributo global no que se refere à prestação de cuidados de saúde e à experiência do paciente, pelo que a profissão farmacêutica deve acompanhar esta rápida evolução.

Na sua opinião, de que forma os currículos das Faculdades de Farmácia se deviam adaptar para dotar os futuros Farmacêuticos de melhores instrumentos para responder aos desafios da longevidade, das patologias mentais, da desinformação, do acesso aos sistemas de saúde e das novas tecnologias?

Creio que as Faculdades deveriam, sim, adaptar os currículos e programas letivos, de maneira a dotar os futuros Farmacêuticos com as competências necessárias para enfrentar o mundo laboral e formar profissionais de saúde capazes de responder aos desafios inerentes à rápida evolução da área da Saúde.

Como? Através, sobretudo, da integração de estágios obrigatórios ao longo do curso, desde o primeiro ano de faculdade, porque faz toda a diferença na formação. Por um lado, porque desenvolve, ano após ano, a maturidade profissional dos alunos (não cairmos de paraquedas no “mundo real”, por obrigatoriedade, apenas no 5º ano de curso). Por outro lado, porque “grão a grão enche a galinha ao papo”, e, se no final de cada ano letivo tivermos concluído um estágio, teremos, certamente, uma consciência mais nítida daquilo que é ser Farmacêutico (no meu primeiro estágio, lembro-me de tratar da logística do armazém e não ver um propósito palpável na minha função; no entanto, no meu último estágio, ao desempenhar exatamente a mesma função, percebia perfeitamente o meu contributo). Adicionalmente, ainda facilita a escolha da saída profissional dos alunos pós-faculdade (lembro-me que o meu primeiro estágio me ajudou a ter uma melhor perceção das funções que eu não gostaria de desempenhar no futuro; o meu último estágio, ajudou-me a definir quais as funções com que me identificava a médio e longo-prazo e a gerir as minhas expectativas de progressão de carreira). Paralelamente, seria fundamental investir nas “soft skills” e “hard skills”, nomeadamente fornecer formação avançada aos alunos universitários nas áreas de Marketing & Comunicação, Literacia Económica & Financeira, e Vendas & Negociação, uma vez que são competências indispensáveis em contexto laboral.

Aconselhava o curso de Ciências Farmacêuticas aos candidatos à Universidade?

Aconselhava, sem dúvida o curso de Ciências Farmacêuticas aos candidatos à Universidade. Nós somos tão mais do que Farmacêuticos. Nós temos um compromisso para com a vida das pessoas que recorrem diariamente a nós. E mesmo que já não exerçamos a nossa formação-base, a paixão pela área da Saúde é algo que não desvanece com o tempo, o nosso propósito só se intensifica. Há um vínculo para com a nossa profissão. E uma conexão ao valor da vida. Se eu tivesse novamente 17 anos, escolheria exatamente o mesmo curso. Benzia-me eternas vezes, porque tenho noção de que é um curso infernal e que leva cada alma ao limite, mas ao fim de 5 anos, não há como não sentir que tudo valeu a pena: o mar de matéria que temos de arrumar em cada pastinha abstrata da nossa cabeça; as tabelas infindáveis de substâncias ativas que puxam lágrimas aos olhos; o trepar paredes pelo nó que se dá na cabeça ao estudar intermináveis horas; o nervosismo pré-exame em que de repente tudo se apaga da nossa cabeça; a ansiedade que nos consome naqueles segundos entre o saber que as notas já estão publicadas e o encontrar o nosso nome na pauta; o “mandar para Deus” e gritar “o curso faz-se no recurso” na tentativa de aliviar a tensão pré-exame – vale a pena, acreditem.

Quais são os seus projectos a médio prazo?

Seja a curto, médio ou longo-prazo, quero assegurar um equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal. A nível profissional, quero ser sempre mais e melhor (do que eu), e não me deixar consumir pelos “e se?” que pairam na minha cabeça, especialmente nesta fase em que se é jovem-adulto (não é assim que nos chamam?). A minha filosofia é de que nunca estamos 100% prontos até termos efetivamente de estar prontos (seja ou não a 100%): a vida não pára, as oportunidades vêm e vão, o timing ideal somos nós quem o cria apesar de a sorte ser sempre bem-vinda, pelo que, acredito que o atirar-me (ou ser atirada) aos leões é uma maneira de me forçar a constantemente sair da minha zona de conforto, até porque me dá “pica”, e, assim, expandir os meus limites, de forma a testar as minhas capacidades, consolidar e reforçar os meus conhecimentos teóricos e práticos, e explorar novas aptidões e até interesses.

A nível pessoal, os meus objetivos a médio-prazo são, sem dúvida, comprar uma casa em Portugal e começar a construir a minha família, desejos que já só quero tornar realidade, apesar de, por vezes, parecer um sonho irrealista, dada a situação dos jovens no nosso país. Paralelamente, quero continuar a apostar na minha paixão pelo desporto, mais concretamente pelo Karaté, e viajar. Na minha opinião, não há dinheiro mais bem gasto do que aquele que volta para nós sob a forma de memórias – aquelas que recordamos, um dia mais tarde, com um sorriso na cara e um sentimento de nostalgia, de quem quer voltar a reviver aqueles momentos da vida.