Bruno Campos Guerreiro, Farmacêutico e Investigador no Centro de Ciências do Mar

Bruno Campos Guerreiro, 37 anos, trabalha em Farmácia Comunitária e está a terminar o Doutoramento no Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve. Além disto ainda tem tempo para presidir à recém criada Associação Portuguesa de Farmacêuticos para a Comunidade (APFPC).

Bruno Campos Guerreiro recebe o 2º prémio da Tecnigen

Qual foi o seu percurso depois de terminar o curso?

Como muitos colegas, fui convidado para trabalhar na farmácia comunitária onde estagiei. Foi em 2010 e lá continuo, tendo passado por duas figuras de gestão. Adicionalmente, mantive sempre contacto com a Universidade do Algarve, tanto na vertente de investigação como com o Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas, participando frequentemente na cadeira de Deontologia e Legislação Farmacêutica e Farmácia Prática.

Mantém actividade no Centro de Ciências do Mar? Como é o dia-a-dia de um Farmacêutico neste ambiente marinho?

O Centro de Ciências do Mar (CCMAR) é um centro de investigação multidisciplinar, estando eu integrado no grupo de Reactividade Orgânica e Química Medicinal (OrgMedChem) coordenado pela Prof. Dra. Maria de Lurdes dos Santos Cristiano. Que é também a orientadora do meu doutoramento. Portanto, o trabalho que lá desenvolvo, no âmbito do meu doutoramento, é de química orgânica e medicinal, com grande foco na síntese orgânica de compostos com atividade biológica relevante e potencial para serem utilizados como novos fármacos ou ajudarem no seu desenvolvimento.

De que forma consegue conciliar a carreira de farmacêutico com a de investigador e ainda ter tempo para o trabalho associativo em prol da comunidade?

É complicado… Por um lado tenho um horário de trabalho que me permite esta actividade de investigação e associativa, por outro conto com o apoio de pessoas em quem confio e que me ajudam tanto a nível da investigação e da Associação. Sem esquecer que é preciso muito apoio e compreensão por parte do núcleo familiar, sem o qual seria impossível.

Como foi o processo de criação da Associação Portuguesa de Farmacêuticos para a Comunidade?

Burocraticamente foi relativamente simples. Surgiu da necessidade de dar voz ao farmacêutico comunitário, seja junto das entidades do sector, decisores políticos ou da comunidade em geral, como é o caso das Associações de Doentes. Tal tornou-se especialmente evidente ainda antes da pandemia, e levou a que eu e outros colegas, por iniciativa do colega João Paulo Fernandes, iniciássemos o Movimento CAI pela valorização da profissão farmacêutica. Um movimento mais informal, baseado nas redes sociais, mas que conseguiu chamar à atenção para muitos problemas dos farmacêuticos, comunitários e não só. Com o tempo o movimento foi evoluindo, acabando por tornar-se mais numa plataforma de discussão e partilha de ideias. Surgiu então a necessidade de criar uma estrutura mais sólida e organizada, mais institucional, que representasse não só os farmacêuticos comunitários, mas todos aqueles que exercem em proximidade. Incluímos aqui os colegas a trabalhar em parafarmácias ou noutras actividades junto das pessoas, mas também para representar as novas áreas de actuação, mais clínicas e de cuidados farmacêuticos, que irão surgir no futuro. Foi isso que eu e mais 10 colegas decidimos fazer, e assim nasceu a Associação Portuguesa de Farmacêuticos para a Comunidade – APFPC, no dia 8 de fevereiro de 2022.

Como tem sido o acolhimento entre as diferentes entidades do sector?

Dentro do sector temos sido bem acolhidos. Tivemos rapidamente reuniões de apresentação com várias entidades, incluindo a Ordem dos Farmacêuticos. Todas as entidades do sector a quem temos recorrido têm sido bastante prestáveis e acessíveis. E podemos dizer o mesmo de todas as Associações de Doentes com quem contactámos.

E entre os colegas farmacêuticos?

A recepção foi boa, gerou interesse. No entanto, somos uma classe que não liga ao associativismo, pouco interligada e relativamente acomodada ao status quo. E dentro da classe farmacêutica, os farmacêuticos comunitários são sem dúvida os mais desligados de todos.

É preciso motivar, unir e incentivar. Não podemos estar à espera de que as coisas se alterem, principalmente que se alterem de encontro aos nossos interesses, se não fizermos nada por isso. O CAI conseguiu um pouco disso e com a Associação estamos a tentar que esta maioria silenciosa dê mais um passo na valorização da profissão farmacêutica.

Quais são os objectivos a curto e a médio prazo?

Crescer, sem dúvida. Como qualquer associação quanto mais associados tivermos mais conseguimos realizar e mais peso e influência temos. O nosso objectivo, e o papel que queremos ter, é o da representatividade dos farmacêuticos a exercer na comunidade, ser a sua voz junto das entidades do sector e dos decisores políticos.

Nesse sentido, o de crescer e atrair mais associados, pretendemos realizar mais formação, que seja realmente útil na prática profissional do dia-a-dia, mais sessões com Associações de doentes, para aproximar cada vez mais os farmacêuticos dos seus utentes, e alguns eventos presenciais, para aproximar os farmacêuticos dos seus colegas e melhorar essas relações intra-profissionais, com mais diálogo e partilha de experiências.

E a nível pessoal?

A nível pessoal, terminar o doutoramento. Tenho-o realizado a tempo parcial pelo que se arrasta no tempo, visto ser impossível conjugar um doutoramento a tempo integral com o trabalho de farmacêutico comunitário.

A nível associativo o foco é fazer crescer a APFPC, em número de associados e relevância no sector. O percurso é longo e ainda estamos no princípio.