Farmacêuticos na política: mais que um estar, um dever
A SRSRA-Ordem dos Farmacêuticos, em parceria com o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, lançou uma formação que tem como principal missão trazer conhecimento sobre a política portuguesa aos farmacêuticos e todos os cidadões em geral.
Com mais de 200 inscrições no curso de capacitação política, Luís Lourenço, presidente da Secção Regional do Sul e Regiões Autónomas da Ordem dos Farmacêuticos, demonstrou o seu grande agrado na sessão de abertura que decorreu na passada segunda-feira, 19 de fevereiro, no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-Ulisboa).
A participação política dos profissionais de saúde em Portugal é um tema de crescente importância, dada a complexidade dos desafios que o sistema de saúde enfrenta. Esta participação não se limita apenas à atuação em instituições de saúde, mas estende-se ao envolvimento em processos decisórios, políticas públicas e debates legislativos que afetam diretamente o setor da saúde. “É um dever para com a comunidade.” salientou António Teixeira Rodrigues (Farmacêutico e ex-deputado à Assembleia da República, na XIII legislatura e Membro da Assembleia Municipal).
Dados recentes indicam que, em Portugal, a presença de profissionais de saúde nas esferas políticas ainda é limitada, apesar da sua importância fundamental no desenvolvimento de políticas de saúde eficazes. A capacitação política, especialmente entre os farmacêuticos, surge como um elemento crucial para mudar esse panorama. Os farmacêuticos, com sua competência técnica e proximidade com a comunidade, estão em uma posição privilegiada para influenciar políticas de saúde pública, promover a utilização racional de medicamentos e contribuir para a sustentabilidade do sistema de saúde.
Questionado acerca das principais razões para os farmacêuticos não estarem mais presentes na política, Luís Lourenço salienta que esta não costumar ser uma área de atuação dos mesmos, ao contrário de outros profissionais, como é o caso, por exemplo dos advogados, uma classe muito mais ligada à politica. E considera, que talvez uma das consequências desta pouca proximidade à política, seja por falta de conhecimento e literacia política.
Nós, durante a apresentação que temos hoje, apercebemos que há um ponto importante, que é a questão da informação, saber como é que as coisas funcionam e estarmos esclarecidos. Uma literacia política… e a partir daí há uma barreira que ultrapassada.
Luis Lourenço, presidente da Secção Regional do Sul e Regiões Autónomas da Ordem dos Farmacêutico
No entanto, a efetiva participação política desses profissionais exige não apenas vontade, mas também uma capacitação específica que muitas vezes não é parte integrante da sua formação académica. Através desta formação promovida pela Ordem dos farmacêuticos, a capacitação política dos farmacêuticos pode contribuir eficazmente em favor de políticas de saúde baseadas em evidências, participar ativamente em debates políticos e contribuir para a formulação de leis e regulamentos que impactem positivamente a saúde pública. Helder Mota Filipe, bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, dá exemplos de decisões políticas sobre o ato farmacêutico onde a falta de “conversar com quem sabe do assunto” traz medidas sem qualquer contexto científico. O responsável da OF dá o exemplo de os produtos Fitofarmacêuticos serem um ato farmacêutico, quando inclui os pesticidas que se usa na agricultura.
Lucas Chambel, recentemente eleito presidente da Associação Portuguesa de Jovens Farmacêuticos (APJF), salienta a importância de apostar em iniciativas como estas. Salienta, que a própria APJF vai realizar, no dia 26 de fevereiro uma discussão sobre as eleições legislativas, trazendo o tema da política para o seio dos jovens farmacêuticos.
Vivemos num contexto político em que as pessoas são mais interessadas. Mas a verdade é que até, eu diria até desde a pandemia Covid-19 que se sente qua a saúde ganhou de facto um papel mais político e, conseguimos por a agenda da saúde muito mais nos nossos órgãos governamentais quer legislativos. E acho que a parte da capacitação política(…) faz sentido que as pessoas de facto, sejam elas profissionais de saúde ou outras profissões, só falam, no seu dia-a-dia, dos assuntos para os quais se sentem capacitados. (…) conhecer o setor da política e assim sabermos como participar.
Lucas Chambel, recentemente eleito presidente da Associação Portuguesa de Jovens Farmacêuticos (APJF),
A implementação de programas de formação como este são essenciais e podem ser desenvolvidos por entidades profissionais, universidades e outras instituições de ensino, com o apoio de políticas governamentais. Além disso, a criação de plataformas de diálogo entre profissionais de saúde, políticos e a sociedade civil pode facilitar a troca de conhecimentos e experiências, fortalecendo a voz dos profissionais de saúde no espaço político.
Lucas Chambel, reforça ainda que, nos debates políticos que se realizaram, a visão de um farmacêutico poderia ter contribuído para a discussão.
A participação política dos profissionais de saúde e, particularmente dos farmacêuticos, é essencial para a construção de sistemas de saúde mais resilientes e centrados no utente. A capacitação política desses profissionais representa um investimento estratégico que pode levar a melhorias significativas na gestão da saúde em Portugal, contribuindo para políticas mais inclusivas e eficazes que atendam às necessidades da população.