Quebrar o estigma da menopausa
Conheça a opinião de Rita Avelar da Silva, farmacêutica e fundadora do projeto Sem Pausa – um “hub” destinado a oferecer informação fidedigna e atualizada sobre menopausa criado com o apoio de médicos especialistas.

Em 2025, a menopausa continua a ser um tema que se fala ao ouvido e frequentemente retratado como o “início do fim”. Este estigma, alimentado pela falta de informação credível e pelo silêncio que ainda paira sobre as experiências das mulheres, perpetua mitos e medos desnecessários. Muitas mulheres chegam a esta fase sem saber o que as espera, o que é normal e como se podem preparar.
Este artigo pretende abrir um espaço à reflexão e desafiar os preconceitos que ainda envolvem a menopausa. É urgente quebrar o silêncio, partilhar experiências e promover uma visão mais informada e positiva desta fase natural da vida.
Com a esperança média de vida das mulheres em Portugal atualmente a rondar os 84 anos, é provável que sejamos a geração que passará quase metade da vida em perimenopausa ou menopausa. Além disso, de acordo com dados da Pordata, em 2023, existiam em Portugal cerca de 3 milhões de mulheres com mais de 45 anos – representando 53,5% das mulheres portuguesas. Ou seja, mais de metade da população feminina está em perimenopausa ou menopausa.
O que é a menopausa?
A palavra ‘menopausa’ deriva do grego ‘men’ (mês ou ciclo mensal) e ‘pausis’ (fim, paragem), que significa ‘cessação do ciclo mensal’. Em termos médicos, a menopausa representa o fim da função dos ovários e da capacidade reprodutiva. Os ovários deixam de libertar óvulos, resultando numa perda irreversível da fertilidade.
Define-se como a última menstruação e é diagnosticada após 12 meses consecutivos sem menstruar. Assim, 1 ano após a última menstruação, podemos afirmar que aquele foi o dia da menopausa. Nas mulheres que utilizam métodos contracetivos que causam ausência de menstruação, o diagnóstico deve ser realizado através de análises.
Por que é que a menopausa acontece?
Quando nascemos, já trazemos connosco todo o nosso stock de folículos ováricos para a vida inteira. Os folículos são pequenas estruturas nos ovários que contêm ovócitos imaturos, formados ainda durante a vida embrionária. Esses ovócitos têm o potencial de amadurecer e tornar-se óvulos, prontos para a ovulação.
À nascença, temos cerca de 1 a 2 milhões de ovócitos imaturos, mas não produzimos mais ao longo da vida. Com o tempo, essa reserva ovárica vai diminuindo, não apenas devido à ovulação, mas sobretudo devido à sua degeneração natural.
A menopausa acontece quando os ovários já não possuem folículos suficientes para amadurecerem e libertarem ovócitos.
Em que idade ocorre a menopausa?
A menopausa ocorre naturalmente entre os 45 e os 54 anos, sendo que, na Europa, acontece em média aos 51 anos.
Curiosamente, a idade da menopausa varia conforme a região geográfica e mulheres de diferentes continentes entram na menopausa em idades distintas. Por exemplo, em África, na América Latina, na
Ásia e no Médio Oriente, tende a ocorrer mais cedo, por volta dos 47/48 anos, enquanto nos Estados Unidos da América a média é de 49 anos.
Se a menopausa ocorrer antes dos 45 anos, chama-se menopausa precoce e se ocorrer antes do 40 anos, designa-se insuficiência ovárica prematura. Tanto a menopausa precoce como a insuficiência ovárica prematura, se não forem tratadas, aumentam o risco de certas doenças e condições, nomeadamente doenças cardiovasculares, osteoporose (e fraturas ósseas) e declínio cognitivo. Por isso, requerem atenção especial.
A menopausa também pode acontecer devido a tratamentos médicos que afetam os ovários. As causas mais comuns incluem a remoção cirúrgica de ambos os ovários que pode ser necessária em casos de cancro do ovário ou outras doenças ginecológicas. Após a cirurgia, as mulheres que não fazem terapêutica hormonal deixarão de ter períodos menstruais e poderão começar a ter sintomas da menopausa de imediato. Outros tratamentos, como quimioterapia, radioterapia ou alguns tratamentos hormonais, também podem provocar o fim da função dos ovários.
Quais são as fases da menopausa?
De uma forma geral, podemos dividir o período da vida reprodutiva habitualmente referido como “menopausa”, em 3 fases:
· PERIMENOPAUSA: fase de transição que começa com as irregularidades do ciclo menstrual e os primeiros sintomas, terminando 12 meses após a última menstruação. Caracteriza-se por flutuações hormonais acentuadas e imprevisíveis, responsáveis por muitos dos sintomas físicos e emocionais. Para muitas mulheres, é a fase mais desafiante.
· MENOPAUSA: corresponde à última menstruação e só é diagnosticada depois de 12 meses sem menstruar. Ou seja, um ano após a última menstruação, podemos olhar para o calendário e dizer que aquele foi o dia da nossa menopausa.
· PÓS-MENOPAUSA: fase que se inicia após a última menstruação e se prolonga até ao fim da vida. Para muitas mulheres, os sintomas começam a melhorar gradualmente nesta altura. No entanto, para aquelas com sintomas mais intensos, estes podem persistir vários anos, mesmo após o último período menstrual.
Os sintomas são iguais para todas as mulheres?
Os sintomas clássicos da perimenopausa e menopausa incluem os conhecidos afrontamentos e suores noturnos, problemas de sono, mudanças de humor, cansaço, dificuldade de concentração, sintomas urinários, secura vaginal, dores nas articulações, aumento da gordura abdominal e alterações da pele e do cabelo. No entanto, já foram descritos mais de 35 sintomas, e há quem refira mais de 70.
Cerca de 80% das mulheres apresentam sintomas da menopausa, sendo que 25% sofrem de sintomas intensos ou frequentes que afetam significativamente a qualidade de vida.
Os sintomas da menopausa variam significativamente de mulher para mulher, tanto na intensidade quanto na duração. Para algumas, podem durar apenas alguns meses, enquanto para outras persistem por mais de uma década.
Existem alguns fatores que podem influenciar esta experiência, nomeadamente a genética, assim como fatores externos, como raça e etnia, cultura, estilo de vida e o meio envolvente. O tabagismo, por
exemplo, está associado a um início precoce da menopausa e a sintomas mais intensos. Em comparação com as mulheres brancas, as mulheres negras têm mais probabilidade de ter um início precoce da menopausa, ter sintomas mais intensos e duradouros, enquanto as mulheres asiáticas relatam menos probabilidade de sofrer com sintomas da menopausa.
Ainda assim, é importante reforçar que a experiência da menopausa é única para cada mulher. Algumas têm poucos ou nenhuns sintomas e, para outras, a menopausa representa um alívio – seja pelo fim das menstruações, pela ausência do risco de uma gravidez não planeada ou pela melhoria de certas condições médicas.
Menopausa não é doença, mas tem consequências
A menopausa não é uma doença. É uma fase natural e programada do ciclo reprodutivo, tal como foi a puberdade. No entanto, está associada a um aumento do risco de certas doenças a longo prazo, que são muito menos discutidas do que os sintomas habituais.
Independentemente de haver ou não sintomas, as alterações hormonais que ocorrem na menopausa podem aumentar o risco de desenvolver diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, osteoporose e fraturas ósseas. Por isso, é essencial estar alerta, manter um acompanhamento médico regular e, muito importante, manter um estilo de vida saudável.
A menopausa é o fim?
A menopausa pode ser o fim da vida reprodutiva, mas não é de todo o fim de uma vida produtiva! Pelo contrário, pode ser o início de uma fase mais livre e consciente da nossa vida. Com mais experiência, mais autonomia e menos pressões externas. Mas para isso, é essencial que falemos sobre o tema, partilhemos experiências, procuremos a informação certa, o acompanhamento médico adequado e façamos a nossa parte através da adoção de estilos de vida mais saudáveis.
Existem diversas formas de aliviar os sintomas, melhorar a qualidade de vida e prevenir doenças longo a prazo, e não é aceitável que muitas mulheres ainda sofram em silêncio. A menopausa é inevitável, mas o sofrimento não.
Sou otimista por natureza, por isso, prefiro vê-la como a versão 2.0 da vida – com mais experiência, mais liberdade e novas possibilidades!