Profissionais do SNS assinalam fragilidades na coordenação entre unidades de saúde
Barómetro de Integração de Cuidados 2025 mostra progressos tímidos e alerta para falta de incentivos à cooperação.

A Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) divulgou hoje os resultados da 2.ª edição do Barómetro de Integração de Cuidados (BIC), estudo desenvolvido pela EY Portugal, que avaliou a perceção de quase 8 mil profissionais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) sobre o nível de integração de cuidados nas suas unidades.
De acordo com um comunicado partilhado com a imprensa, os resultados mostram “uma melhoria ligeira na perceção global da integração, com uma pontuação média de 3,29 em 5, o que representa um crescimento de 8% face a 2024”. Ainda assim, “persistem fragilidades na coordenação entre unidades, sobretudo pela ausência de incentivos à cooperação e de uma política salarial integrada”, destaca a APAH.
O BIC é uma iniciativa conjunta da APAH e da Bayer Portugal, com a colaboração dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) e apoio institucional da Portuguese Association for Integrated Care (PAFIC). O estudo avaliou seis dimensões essenciais: clínica, informação, normativa, administrativa, financeira e sistémica, através de um questionário com 53 afirmações.
“O Barómetro de Integração de Cuidados é um estudo muito importante, pois permite identificar onde devemos concentrar os nossos esforços de integração (…) e, mesmo com progressos, a integração não é um dado adquirido, podendo haver retrocessos se não houver continuidade de empenho, liderança e recursos”.
Xavier Barreto, presidente da APAH
Entre as conclusões mais relevantes, a dimensão normativa obteve a melhor classificação e apresentou o maior progresso face à edição anterior, refletindo um maior alinhamento regulatório e procedimental entre as unidades de saúde que integram as Unidades Locais de Saúde (ULS).
Já a dimensão financeira voltou a destacar-se pela baixa pontuação e pelo baixo índice de resposta (45%), sinalizando falta de visibilidade sobre a gestão e distribuição de recursos no seio das ULS.
Segundo Miguel Amado, partner e responsável pelo setor público na EY Portugal, “a participação expressiva de quase oito mil profissionais do SNS ilustra a importância do tema da integração de cuidados de saúde. Ouvir quem está no terreno é fundamental em qualquer processo de mudança. No fim, seja qual for o setor ou a escala, a transformação acontece sempre através das pessoas”.
O estudo revela ainda diferenças significativas entre grupos profissionais. Os administradores hospitalares demonstraram maior domínio nas dimensões administrativas e financeiras, enquanto médicos e enfermeiros se destacam na dimensão clínica, embora os médicos apresentem uma perceção global mais crítica da integração.
A nível regional, “o Algarve surge como a zona com pior perceção de integração, apesar de ser a região que mais melhorou face ao ano anterior”. Já as ULS “com operação anterior a 2024 registam avaliações mais altas”, mas o estudo nota uma aproximação gradual das novas unidades, sinal de maior convergência e partilha de práticas integradas.
O Barómetro de Integração de Cuidados 2025 confirma, assim, que “o SNS está a dar passos na direção certa, mas ainda enfrenta barreiras estruturais à plena coordenação entre níveis de cuidados”.
Por isso, para a APAH, “o desafio passa por transformar a perceção positiva em práticas sustentáveis de colaboração e eficiência, assegurando um sistema de saúde mais integrado, equitativo e centrado no cidadão”.




