“Temos de começar a mudar e a transformar muitos paradigmas da nossa sociedade atual”

“Temos de começar a mudar e a transformar muitos paradigmas da nossa sociedade atual”

Entrevista com a Farmacêutica, Aromaterapeuta Clínica, Psicoaromaterapeuta e Especialista em Biocosmética – CEO of Soul.T Tânia Rodrigues sobre a evolução da saúde integrativa em Portugal

Para além da sua formação em ciências farmacêuticas, tem uma vasta formação na área da saúde. Como é que as várias áreas se interligam e de que forma contribuem para a abordagem mais integrativa?

Foi um caminho longo e um percurso académico de investimento, dedicação, autonomia e inovação: Curso de Farmácia (Coimbra), Mestrado em Ciências Farmacêuticas (Porto), Curso de Biocosmética, Curso de Aromaterapia, Curso de Psicoaromaterapia, Competências Pedagógicas de Formador (CCP, ex-CAP), entre muitos outros. Na minha prática profissional em Farmácia Comunitária/de Oficina, e sem ter uma consciência evidente naquela altura, eu já praticava um olhar integrativo aquando do atendimento ao público em geral, sempre preocupada em alertar o utente para uma alimentação cuidada e com disponibilização de dicas para confeções de culinária mais saudáveis, recomendação de suplementos vitamínicos e de nutracêuticos que minimizassem (e, até, evitassem, em muitos casos) alguns efeitos secundários decorrentes da administração medicamentosa, indicação de modalidades de exercício físico que promovessem a saúde e o bem-estar.

Desta forma, enveredei pela formação na área da saúde: Aromaterapia e Psicoaromaterapia Clínicas, sou Especialista em Biocosmética, Formadora Certificada (faculto formações em diversas áreas: Aromaterapia Científica, Psicoaromaterapia Científica, Aromaterapia na gestão da Ansiedade durante o processo Oncológico, Hidrolaterapia, Casa ECOnsciente, e outras) e criei e fundei a marca Soul.T Tânia Rodrigues . Esta marca tem como objetivo formular biocosméticos de forma personalizada e de acordo com as necessidades de cada pessoa (com base nos dados recolhidos durante uma consulta integrativa prévia) e, numa vertente mais clínica (com eventuais patologias associadas), complementar a medicina convencional, daí o meu interesse em implementar este projeto inovador em Portugal.

A premissa máxima é incluir terapias integrativas: saúde, bem-estar e equilíbrio psíquico/mental, emocional, energético & físico.

Em que consiste a Consulta Integrativa?

A Consulta Integrativa é uma avaliação e análise de uma pessoa como um todo (que é), de forma minuciosa, completa, global e única, e não de forma separada/dissociada. Cada pessoa tem as suas particularidades, reage de forma diferente, sente de forma única e perceciona de forma exclusiva. A forma como pensamos, sentimos, como nos nutrimos, alimentamos, como percecionamos a vida, como lidamos com os desafios, como adotamos o nosso estilo de vida vai influenciar, completamente, o eixo: CORPO-MENTE-EMOÇÕES-ENERGIA VITAL. Por exemplo, um problema de pele como a dermatite, está muito ligada à componente emocional, nomeadamente, ao stress crónico, uma mente exausta, uma alimentação descuidada, um intestino (com a sua microbiota) completamente inflamado e desequilibrado, emoções alteradas e sem energia vital para as rotinas do dia a dia (e, até, sem vontade de acordar e levantar para um novo dia).

Todas estas componentes têm de ser trabalhadas (e geridas) para mais saúde, bem-estar e equilíbrio, pois, caso contrário, não funcionamos!

Aqui, entram as terapias complementares e Integrativas: Aromaterapia e Psicoaromaterapia Clínicas, Biocosmética, Fitoterapia, Naturopatia, técnicas de respiração consciente, alimentação saudável.

O que a motivou a seguir o caminho das terapias complementares?

Senti necessidade, cada vez mais, de mergulhar numa profunda jornada de autoconhecimento interior e de explorar outras áreas que colmatassem a falta de algumas respostas pelo nosso sistema de saúde convencional. Para além disso, sempre me regi por um estilo de vida saudável e consciente e sou defensora de um mundo mais sustentável e ecológico porque, efetivamente, vivemos nele e, como tal, devemos respeitá-lo. Desde pequena que tenho uma enorme paixão pelas plantas e por tudo o que é natural. Adorava o caminho percorrido a pé para a escola e ver os lindos campos de papoilas e malmequeres! É assustador a quantidade de disruptores endócrinos, ainda, presentes em: pastas dentífricas, champôs, cremes de rosto e de corpo, maquilhagem, desodorizantes, etc., os quais são utilizados diariamente e com repercussões, na saúde e a nível ambiental, terríveis.

Temos de começar a mudar e a transformar muitos paradigmas da nossa sociedade atual, se queremos diminuir algumas doenças em escala crescente.

O olfato/o cheiro era instinto de aproximação de um predador! Hoje em dia, com perfumes e ambientadores sintéticos, confunde-se esse instinto natural e está esquecido, para além dos problemas respiratórios que causam (rinite, sinusite, asma, entre outros).Para além disso, existem inúmeros estudos científicos a comprovarem a eficácia da Aromaterapia e da Psicoaromaterapia nas mais diversas áreas da saúde, basta explorar o mundo científico que nos disponibiliza uma vasta inovação. Ainda, na minha prática clínica, tenho excelentes resultados em casos de frieiras, rosácea, alopecia, entre outros.

Como faz o equilíbrio entre a combinação de terapias convencionais e alternativas?

Tendo como base a minha formação em Ciências Farmacêuticas e associando, sempre, um olhar integrativo, alerto para rastreios clínicos, análises ao sangue periódicas, acompanhamento farmacoterapêutico para evitar eventuais interações medicamentosas e interações plantas-medicamentos, ajustar os óleos essenciais em doentes polimedicados (cuja função enzimática se encontra comprometida), orientação para a adoção de um estilo de vida mais saudável, disponibilização de receitas de culinária saudáveis para uma alimentação mais cuidada, criação e formulação de biocosméticos personalizados para cada patologia/doença cutânea manifestada, indicação de óleos essenciais para equilíbrio mental e emocional (com recomendação do seu uso seguro e adaptado a cada idade, condição física e eventuais patologias inerentes).

Como a saúde integrativa pode complementar os tratamentos convencionais e oferecer uma abordagem mais integrada/alargada de bem-estar?

Posso enumerar vários exemplos: durante o processo oncológico, no caso de náuseas, evidências científicas apontam para a utilização da inalação do Óleo Essencial de Lima ou do Óleo Essencial de Gengibre; descobertas indicam que a exposição a substâncias voláteis aromáticas, nomeadamente, fitoncidas (Phytoncides), como alfa-pineno e beta-pineno, e a diminuição dos níveis de hormonas do stress (adrenalina e noradrenalina) podem contribuir para o aumento da atividade NK (células Natural Killer, de extrema importância no combate ao cancro e outras patologias); testes comportamentais demonstraram que a inalação dos óleos essenciais cítricos (por exemplo, Citrus x sinensis) apresentam efeitos ansiolítico e sedativo; outros estudos demonstram, também, a interação dos Óleos Essenciais com as frequências cerebrais, as quais refletem a atividade neuronal e servem para avaliar a saúde mental. No entanto, deve-se ter em consideração a preferência e afinidade olfativas de cada pessoa: reagimos aos aromas, geralmente, de forma intelectual e emocional, remetendo para “memórias olfativas” do que fomos vivenciando ao longo da nossa vida.

A Psicoaromaterapia destaca a ação dos óleos essenciais a nível do sistema nervoso central (SNC): através da inalação, os óleos essenciais conseguem ter acesso direto à região emocional do cérebro e da memória (sistema límbico), atenuar distúrbios emocionais e melhorar a função cognitiva.

Ou seja, o sistema límbico é responsável pelos sentimentos, emoções, memória, aprendizagem e energia física. Em menos de um segundo somos capazes de detetar inúmeras substâncias presentes no ar (o olfato é muito importante para a saúde mental).

Quais são os principais benefícios da aromaterapia e como se integra a outras terapias dentro de um modelo de saúde integrativa?

A Aromaterapia é uma ciência complementar que utiliza o poder terapêutico dos óleos essenciais para o tratamento de diversos distúrbios de ordem física, emocional, mental e energética. Tem em conta as características bioquímicas dos óleos essenciais, adequa-se a todas as idades (com restrições particulares a cada faixa etária) e adequa-se à diversidade de prestação de cuidados de saúde (tanto a título preventivo como curativo). Óleos Essenciais são princípios ativos naturais, odoríferos, não oleosos, cuja extração é obtida de diversas partes de plantas, resultando numconcentrado potente (70x superior às plantas originais e 1 gota equivale a cerca de 25 chávenas de chá, ou mais, da planta original). Desta forma, possuem propriedades bioquímicas diferentes e, por conseguinte, propriedades terapêuticas específicas. Atenção, estes devem ser criteriosamente selecionados, serem 100% biológicos, puros, naturais, integrais e orgânicos, com certificados de qualidade extra empresa/laboratório produtor(a), disponibilização de Cromatografia Gasosa e Espectrometria de Massa (GC-MS) e obedecer a determinados requisitos, como nome em latim e especificação do quimiotipo, parte da planta extraída, número de lote, país de origem, validade, entre outros, para garantir a eficácia terapêutica e a respetiva segurança de utilização. Os benefícios são múltiplos e de comprovação científica: minimiza efeitos adversos e secundários de medicamentos e vacinas, assim como de tratamentos oncológicos; modulam o sistema imunitário (imunomodulação); atuam na depressão, ansiedade e insónia; reduzem a fadiga crónica; melhoram a memória e a aprendizagem (estudantes e doença de Alzheimer); úteis na cicatrização de feridas e estimulação das fibras de colagénio; promovem a neurogénese (induzem a formação de novos neurónios no cérebro) e são neuroprotetores (aumentam os níveis dos neurotransmissores cerebrais, como a serotonina, a dopamina, GABA, entre outros; ação hepatoprotetora ; ação desparasitante (interna e externa); atividades antibacteriana e antimicrobiana; tratamento de alopecia areata; moduladores da microbiota e do microbioma intestinais (+ efeitos prebióticos-like); entre tantos outros benefícios incríveis. Portanto, é possível integrar e complementar com: a medicina convencional, a fitoterapia, a naturopatia, a medicina energética (Reiki), medicina tradicional chinesa (MTC), acupuntura, estilo de vida e comportamental, exercício físico (Yoga, Pilates, Meditação, Caminhadas), nutrição, medicina estética e cosmética, entre outros.

Considera que ainda existe alguma desconfiança em relação às terapias” não convencionais”?

No nosso país, ainda existe alguma resistência em implementar determinadas terapias integrativas, complementares e “não convencionais” no nosso serviço e sistema nacional de saúde. Contudo, em outros países, já são integradas de forma equilibrada e dinâmica. Particularmente, no âmbito da Aromaterapia, destaco: hospital NHS (Londres, Departamento de Radioterapia), hospital NHS (Escócia, alívio da dor no processo normal de parto), SUS (Sistema Único de Saúde, Brasil, nomeadamente na diminuição da ansiedade e da depressão), hospital Le Corbusier en Firmini (França, Cuidados Intensivos), sempre, com o intuito da promoção do cuidado e da saúde. E, como podem observar, só há pouco tempo é que se valorizou os benefícios acrescidos da acupuntura, mas, devido a várias opiniões divergentes e conflitos na saúde, foi necessário criar, especificamente, uma Licenciatura em Acupuntura, não reconhecendo o potencial da Medicina Tradicional Chinesa.

É, de facto, um caminho longo a percorrer, mas no rumo e na direção certos numa mudança de “certas mentalidades”.

Assim espero e acredito! O público em geral, já começa a despertar e a ter mais consciência deste tipo de terapias e já há uma procura crescente para o próprio bem-estar a todos os níveis, assim como bons profissionais especializados nestas áreas de intervenção na comunidade.Inclusive, eu sou um dos membros fundadores de uma associação em Portugal, a qual pretende mudar essa visão: IAAP – Portugal (Associação Internacional de Aromaterapeutas Profissionais em Portugal), sem fins lucrativos, representando os aromaterapeutas clínicos profissionais e dedicando-se a facultar todo o apoio e suporte inerentes à Aromaterapia.  A IAAP visa aumentar a consciencialização e expandir o acesso, aos aromaterapeutas, de estudos e informações credíveis, ajudar os seus membros a construir práticas bem-sucedidas, expandir o corpo de pesquisas em aromaterapia e servir como um recurso para os seus membros.

Que desafios existem nesta matéria?

Muitas pessoas intitulam-se como Aromaterapeutas, quando, na verdade, são vendedores de óleos essenciais, sem conhecimento científico e com desinformação perigosa (já para não falar de certas “receitas” que circulam na internet). Temos de ter cuidado no aconselhamento e nas recomendações da utilização dos óleos essenciais, principalmente, em pacientes sensíveis (bebés, crianças, grávidas, lactantes, neurologicamente afetados, asmáticos, estrogénio-dependentes, com insuficiência renal, entre outros) e animais (domésticos e outros, pois estes não possuem determinadas enzimas importantes no processo metabólico dos óleos essenciais). É imprescindível a segurança, acima de tudo!

Um alerta muito importante: óleo essencial e água são imiscíveis e, jamais, se deve proceder à sua ingestão em água. Inclusive, existe um documentário, que pode ser visto na NETFLIX, muito interessante sobre estes perigos de ingestão de óleos essenciais, cujo título é “(Contra)indicado” / “(Un)well”. Tem de haver consciência que estamos a falar de química natural, mas potente e com múltiplos benefícios para a saúde, mas, um mau uso, pode ter consequências graves e nefastas a curto-médio-longo prazo. A ingestão de óleos essenciais não é “para ser feita de ânimo leve”, é recomendada em último recurso e em casos muito específicos, sempre, com a orientação e acompanhamento por um profissional devidamente qualificado. Reparem que, a partir do momento em que um óleo essencial é ingerido, passa por todo um processo de BIOTRANSFORMAÇÃO/METABOLIZAÇÃO, ou seja, administração, absorção, distribuição, metabolismo ( de primeira passagem quando há ingestão) e eliminação/excreção. Um óleo essencial é composto por centenas, ou mais, moléculas químicas ativas e nunca vamos obter as moléculas originais aquando da sua biotransformação no organismo, e não se conhece o mecanismo de ação de todas essas moléculas. Aliás, estudos científicos sobre a biodisponibilidade, só existem de algumas moléculas de alguns óleos essenciais. É uma área que está a ser explorada. Quando ocorre ingestão, antes de atingir o órgão pretendido, as moléculas já foram todas biotransformadas, podendo perder efeito terapêutico ou, até, serem tóxicas! Não é que pelas outras vias (inalação, pele) não possa acontecer o mesmo (quando existe um uso não consciente, errado, não seguro, prolongado e/ou exagerado), mas, com a ingestão, a probabilidade de intoxicação é muito maior!!!

É de extrema importância ter conhecimento quanto às interações entre óleos essenciais (do que já se tem evidência científica) e medicamentos, não esquecendo se se trata de um doente polimedicado, entre outros fatores.

O que queremos garantir é o equilíbrio dinâmico, que cada molécula entre e saia, sem haver bioacumulação e ausência de toxicidade, exercendo o efeito terapêutico pretendido!É todo um mundo fascinante, mas que requer estudo e pesquisa constantes, em fontes credíveis, fidedignas e certificadas.

Se o leitor gostava de saber mais sobre este tema, pode inscrever-se no curso de aromaterapia, administrado pela Dra. Tânia Rodrigues. Aceda ao link: https://pharmabsc.pt/formacao/curso-em-aromaterapia/