Instituto Ricardo Jorge lidera estudo europeu sobre vigilância genómica no âmbito da estratégia “Uma Só Saúde”
Este é o mais abrangente estudo realizado sobre a comparabilidade de métodos bioinformáticos usados na vigilância genómica de doenças infeciosas transmitidas por alimentos.

Um grupo de investigadores da Unidade de Genómica e Bioinformática do Departamento de Doenças Infeciosas do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), publicou na prestigiada revista científica Nature Communications um estudo que contribui de forma importante para a vigilância genómica de infeções bacterianas transmitidas por alimentos a nível internacional. Desenvolvido no âmbito do projeto BeONE – Building Integrative Tools for One Health Surveillance, inserido no One Health European Joint Programme, o trabalho contou com a participação de onze institutos de oito países europeus, abrangendo os setores da saúde humana, saúde animal e segurança alimentar, e financiamento adicional do programa europeu ISIDORe e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
Para prevenir e controlar eficazmente infeções alimentares de origem bacteriana, que continuam a representar um importante desafio de saúde pública à escala global, organizações como a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) ou a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) têm recomendado o recurso a metodologias baseadas na análise do genoma completo dos agentes patogénicos (Whole-Genome Sequencing – WGS), no contexto de uma estratégia “Uma Só Saúde”, que promova a integração de dados e colaboração entre setores e países.
A adoção desta abordagem tem sido, contudo, marcada por uma grande diversidade de metodologias bioinformáticas, com diferentes laboratórios a utilizarem métodos de análise distintos, o que pode comprometer a comparabilidade dos resultados e dificultar a comunicação e cooperação entre instituições e países. O estudo agora publicado procura responder a esta limitação, avaliando a congruência entre os principais métodos bioinformáticos de análise de dados de WGS atualmente utilizados na vigilância de quatro bactérias prioritárias: Listeria monocytogenes, Salmonella enterica, Escherichia coli e Campylobacter jejuni.
No geral, os resultados demonstram uma elevada concordância entre as metodologias implementadas em diferentes laboratórios Europeus para a maioria das espécies analisadas, evidenciando a possibilidade de uma vigilância genómica mais integrada e interoperável. Apesar disso, este estudo revelou também diferenças relevantes na capacidade de detetar potenciais surtos, demonstrando que a flexibilização dos critérios para definição de surto com base em dados genómicos é essencial para assegurar a deteção dos mesmos “sinais” pelos diferentes laboratórios.
“Este estudo abre novas perspetivas para uma vigilância genómica mais eficiente, integrada e sustentável, assente numa verdadeira cooperação internacional e intersetorial dentro do conceito ‘Uma Só Saúde’”, destaca Vítor Borges, investigador responsável no INSA, reforçando ainda que “num momento em que a interoperabilidade entre laboratórios é essencial, este trabalho fornece orientações concretas para harmonizar práticas e promover uma resposta mais coordenada a surtos alimentares”. Já a investigadora Verónica Mixão, primeira autora do artigo, sublinha que “os resultados surgem num momento particularmente oportuno, em que muitos laboratórios iniciam a transição para a genómica e em que se definem novas estratégias a nível europeu”.
Até à data, este é o mais abrangente estudo realizado sobre a comparabilidade de métodos bioinformáticos usados na vigilância genómica de doenças infeciosas transmitidas por alimentos. As suas conclusões constituem um importante avanço no esforço interlaboratorial de partilha e integração de dados e no reforço da cooperação internacional, contribuindo para a transição tecnológica em curso e para a implementação eficaz da abordagem “Uma Só Saúde”.
Fonte: INSA