Joana Fernandes: Entre a Indústria Farmacêutica e o Teatro Musical

Ajudou a criar o Grupo Tubo de Ensaios, na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, em que participava na escrita e na encenação e fazia parte do vários elencos que apresentaram peças nos corredores da FFUL. Depois da licenciatura passou pela Associação Nacional de Farmácias e trabalha actualmente na Merck Sharp & Dohme, como especialista de informação médica. Apesar do horário a tempo inteiro está a frequentar um curso profissional de teatro musical na Escola de Danças Sociais e Artes de Espectáculo.

Enquanto estudante de Ciências Farmacêuticas ajudou a criar um novo grupo de teatro na faculdade, o Tubo de Ensaios, que teve um óptimo acolhimento e foi premiado no FATAL (Festival Anual de Teatro Académico de Lisboa). Pode contar-nos como foi esta aventura?

Acho que a palavra “aventura” descreve bem todo o processo da minha passagem pelo Tubo de Ensaios. Foi uma experiência muito enriquecedora em vários aspetos, permitiu-me crescer e explorar várias valências e construir, em conjunto, um grupo que funcionava quase como uma segunda família, onde podíamos esquecer os livros, as sebentas (e as químicas!) para poder apenas criar e fazer algo diferente.

Qual foi o segredo que levou tantos estudantes de farmácia a escrever, a encenar e a apresentar peças de teatro em espaços diferentes?

Diria que o segredo por detrás do Tubo de Ensaios é essencialmente o espírito que se criou entre os elementos do grupo, a relação de amizade que se foi cimentando entre todos foi, sem dúvida, a semente para uma colaboração de sucesso. Uma colaboração em que cada elemento acrescentava sempre alguma coisa de novo à discussão, onde havia troca de ideias ao longo de todo o processo, desde a escrita à encenação. Por outro lado, o Tubo de Ensaios também foi crescendo e ganhando notoriedade, na minha opinião, pela diferença. O facto de termos a limitação de não haver um palco, obrigou-nos a reinventar cada espetáculo, levou-nos a transformar essa limitação num elemento diferenciador, a criar peças em que o público seguia a narrativa pelos corredores, ou onde se transformava uma escadaria numa plateia, a biblioteca numa sala de espetáculos, e isso tornou-se quase uma imagem de marca que se tornou bastante atractiva para o público.

Depois de concluída a licenciatura continuou ligada ao Grupo de Teatro?

A ajudar ativamente, durante os dois anos seguintes. Costumava participar no workshop de iniciação ao teatro que o grupo organizava anualmente e também assistia a alguns ensaios, geralmente mais perto das datas do espetáculo, para dar feedback. Eu e outros ex-membros do Tubo de Ensaios. Foi algo tão bom para nós que foi difícil largar! Atualmente, ainda vou assistir a todas as peças que fazem e fico muito orgulhosa e feliz de ver que o legado continua.

Neste momento trabalha numa multinacional farmacêutica e frequenta um curso de formação em Teatro Musical na Escola de Danças Sociais e Artes de Espectáculo. Como é que concilia estas duas vertentes?

Acho que é muito saudável podermos ter um escape ao nosso trabalho diário. Aconselho a todos! Claro que tenho a sorte de estar numa fase da minha vida que me permite conciliar um trabalho full-time, com o curso de formação que decorre em horário pós-laboral. O facto de a minha empresa adotar o regime híbrido de trabalho, permite-me, em alguns dias, utilizar a hora de almoço ou o tempo que gastaria em deslocações a estudar para o curso. Nem sempre é fácil, e o cansaço por vezes leva a melhor, mas o saldo é bastante positivo.

Em Portugal, o mundo das artes não tem uma grande ligação com a profissão farmacêutica, ao contrário da classe médica que tem até uma Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos. No universo lusófono temos duas honrosas excepções, Carlos Drummond de Andrade e Bertha Celeste Homem de Mello, que escreveu a letra da música “Happy Birthday” para a Língua Portuguesa, que se tornaram as estrofes mais conhecidas no universo lusófono. Como explica esta falta de ligação entre a criação artística e o mundo farmacêutico?

É um excelente ponto! Cheguei a pensar que a classe farmacêutica não estivesse tão ligada às artes, mas não é verdade. Acho que não nos damos é a conhecer o suficiente! E historicamente, somos uma classe que se une pouco, e gostava muito de ver isso a mudar um dia. Quando comento com colegas farmacêuticos que embarquei nesta jornada “teatral” tenho respostas imediatas de outros colegas relacionados com as artes, ou que conhecem alguém que tem esta ligação. Posso dizer que conheço colegas ligados à escultura, escrita, música, pintura, fotografia e todos repletos de talento. No meu curso de formação de atores de teatro musical, por exemplo, somos 3 farmacêuticos. A arte está em nós. Temos de a dar a conhecer!

De que forma as artes teatrais são importantes para si como pessoa? E como profissional?

Muito importantes. Sou da opinião que somos pessoas diferentes nas várias vertentes da nossa vida. Ou que exploramos diferentes características nossas. Não sei se toda a gente se sente assim. No teatro exploro facetas que não exploro no dia-a-dia. Num momento tenho uma personagem mais introspetiva, noutro tenho de me entregar de corpo e alma à comédia. E saio muito da minha zona de conforto, que me faz crescer. E, não menos importante, o teatro musical já me deu a conhecer pessoas maravilhosas. Profissionalmente também tem impacto, e senti-o desde cedo. Num âmbito mais técnico trabalhamos a dicção, como colocar a voz, técnicas de exposição oral, improvisação e tudo isto é importante para aplicar no trabalho. Para além disto, no teatro exploramos a vertente criativa, o que é óptimo para alavancar a criação de novos projetos profissionais.

Costuma frequentar o teatro? Quais são as companhias que mais admira?

Sim! E estou muito feliz por assistir a um crescimento do teatro, em particular o teatro musical em Portugal. Tenho assistido a espetáculos incríveis. Temos sempre aquela ideia de que fora de Portugal tudo é melhor, que é preciso ir a West End ou à Broadway para ver grandes espetáculos. Mas isso, felizmente, está a mudar. Tento ir ao teatro quase todos os meses e ver não só teatro profissional, mas também algum teatro amador, que mostra que há muita qualidade artística por aí.

A maioria dos diplomados em Ciências Farmacêuticas acabam por enveredar pela Farmácia Comunitária. Durante o seu percurso nunca chegou a ter interesse por esta área ou tinha mais inclinação para as áreas laboratoriais e de investigação?

Tive interesse em Farmácia Comunitária, sim. O contacto com o público e a sensação de que fazemos diferença na comunidade sempre foram coisas que me fascinaram. Tenho muita admiração pelos colegas que estão em Farmácia Comunitária.

O curso de Ciências Farmacêuticas foi a primeira escolha no acesso à Universidade?

Muito indecisa entre Medicina e Ciências Farmacêuticas, mas foi a primeira escolha, sim.

E quais foram os principais motivos para esta escolha?

Sabia que queria algo na área da saúde. A variedade de saídas profissionais possíveis em Ciências Farmacêuticas foi um factor importante. Saber que no futuro teria várias escolhas em aberto, Farmácia Hospitalar, Comunitária, Análises Clínicas, Distribuição, Indústria Farmacêutica deixava-me mais tranquila. Saber que apesar de estar a enveredar por um caminho, haveria no futuro vários por onde escolher.

Correspondeu às expectativas?

Correspondeu, em parte. Penso que, na altura em que frequentei o curso, eram necessárias algumas alterações curriculares para um ajuste à realidade. Sei que, entretanto, já houve alterações e fico contente por isso.

Trabalhou vários anos no CEDIME (Centro de Informação do Medicamento). Como é que surgiu a oportunidade?

Entrei na Associação Nacional de Farmácias através de uma oportunidade de um estágio. Primeiramente no Departamento de Serviços Farmacêuticos que mais tarde reestruturou para o CEDIME.

Joana Fernandes na sede do Centro de Informação do Medicamento

Como foram esses primeiros anos?

Foram muito gratificantes. O primeiro projeto em que estive envolvida, foi a criação de fluxogramas de indicação farmacêutica – no fundo, um apoio ao aconselhamento farmacêutico em situações clínicas ligeiras. Como disse, admiro muito o trabalho dos farmacêuticos comunitários e criar ferramentas que os ajudavam era bastante motivador para mim. Mais tarde fui envolvida noutros projetos, como o Programa Troca de Seringas, o desenvolvimento do projeto-piloto da realização de testes VIH em farmácias e a dispensa de terapêutica antirretroviral em farmácias (que hoje, pós-pandemia, é uma realidade, mas na altura era algo pioneiro). Paralelamente, prestava apoio científico às farmácias que contactavam a ANF.

Em 2022 entrou para o Departamento Médico da Merck Sharp & Dohme. Como foi a passagem?

A passagem foi algo natural, dado a minha vontade de evoluir. De todos os departamentos que existem na indústria farmacêutica, o departamento médico foi sempre aquele que me suscitou curiosidade, pela vertente científica. Não foi fácil entrar. Foram muitos currículos enviados e muito tempo de espera. Por isso, deixo o conselho para algum colega que esteja a tentar fazer esta mudança, não percam a esperança. Quando digo que a passagem foi natural, prende-se com o facto de agora fazer algo semelhante, mas, em vez de ser apenas para farmacêuticos, faço-o para profissionais de saúde no geral – farmacêuticos, médicos, enfermeiros e investigadores.

Como decorreu o processo de candidatura e selecção?

Candidatei-me através do Linkedin. Na altura o anúncio não dizia qual era a empresa. Seguiram-se três entrevistas focadas em questões diferentes e finalmente soube a resposta.

Em linhas gerais como é um dia de trabalho?

Dentro do departamento médico ocupo a função de “Medical Information Specialist”. Na prática, respondo a pedidos de informação médica dos profissionais de saúde nas áreas de doenças infeciosas e vacinas. Recolho a bibliografia mais adequada e estruturo a resposta da forma mais rigorosa possível. Para além disto, dou apoio na criação de materiais, garantindo que estão cientificamente corretos e dou apoio à gestão projetos como podcasts científicos.

Quais são os principais atractivos da Indústria para os Farmacêuticos?

Penso que o maior atrativo é a possibilidade de progressão na carreira. O regime híbrido (presencial e teletrabalho) também traz grandes vantagens.

E as dificuldades?

A maior dificuldade é a pressão inerente ao trabalho numa indústria farmacêutica multinacional. É um mercado muito competitivo e com muita exigência.

Segundo dados da Ordem dos Farmacêuticos, mais de 40% dos farmacêuticos inscritos tem idade inferior a 35 anos. Temos muitos colegas em cargos relevantes espalhados por muitos países. Como jovem farmacêutica, como vê a evolução da profissão farmacêutica em termos globais?

Acho que estamos a caminhar na direção certa. Têm existido mudanças no currículo das faculdades, surgiu a residência farmacêutica em Farmácia Hospitalar, as Farmácias Comunitárias estão a ganhar mais relevância no sistema de saúde em Portugal, temos uma ministra da saúde farmacêutica, a própria pandemia trouxe muita atenção ao papel essencial do farmacêutico, e poderia dar mais exemplos. As organizações internacionais ligadas à área da farmácia também têm feito um excelente trabalho. Tudo isto tem aberto portas para que colegas nossos consigam ter cada vez mais visibilidade, uma vez que a nossa profissão é cada vez mais reconhecida. Somos os especialistas do medicamento e é importante que sejamos vistos como tal. O que gostava de ver a evoluir cada vez mais é a nossa união, enquanto classe, para chegarmos cada vez mais longe e termos cada vez mais visibilidade.

Chegou a ponderar emigrar?

Sim. Muito motivado pela instabilidade política, a dificuldade da habitação, os salários baixos. Acho que na nossa geração, somos muitos a ponderar essa hipótese.

Em que países gostaria de trabalhar?

Gostaria que fosse na Europa. O Reino Unido seria uma hipótese, pela proximidade a Portugal, e por saber de experiências de colegas que estão ou estiveram lá e tiveram experiências positivas.

Do que já teve oportunidade de observar, sente que existem grandes diferenças ao nível da cultura de trabalho em relação a Portugal?

Como trabalho numa multinacional, tenho oportunidade de trabalhar com colegas de outros países. Existem algumas diferenças sim. Não digo a nível de qualidade de trabalho, Portugal aí está, muitas vezes, ao nível de outros países. Mas, por exemplo, no que toca a horários de trabalho, é raro ver os colegas de outros países a trabalharem fora de horas. Aliás, enviar emails após o término do horário de trabalho a colegas de alguns países é considerada uma má prática de trabalho.

A Ordem dos Farmacêuticos tem defendido uma maior intervenção dos farmacêuticos para resolver os problemas que o SNS enfrenta. Como vê estas possibilidades no actual contexto?

Penso que os farmacêuticos são uma peça fundamental para o bom funcionamento do SNS e para a sua valorização e otimização, embora, infelizmente, sejamos muitas vezes pouco reconhecidos no nosso papel. Na minha opinião, isto deve-se ao facto de que os farmacêuticos exercem, muitas vezes, um trabalho “invisível”, seja, por exemplo, na poupança anual de milhões de euros do orçamento do Estado na Farmácia Hospitalar, seja no contacto permanente e direto com a população, cada vez mais envelhecida, e que tem sempre o seu farmacêutico de proximidade na Farmácia Comunitária.

De que forma é que os farmacêuticos comunitários poderiam ajudar a melhorar o acesso e a qualidade dos serviços às populações?

Os farmacêuticos comunitários têm de ser vistos, cada vez mais, como um elemento que extravasa largamente a mera dispensa de medicamentos. Aproximadamente 5% da população portuguesa entra, diariamente, numa farmácia. É preciso olhar para a farmácia comunitária, verdadeiramente como o braço longo do SNS que consegue chegar à população com uma proximidade que os outros serviços de saúde não atingem. Quantas e quantas vezes, as pessoas se dirigem à farmácia com as mais inimagináveis perguntas sobre questões de saúde? Quantas localidades viram o centro de saúde e outros serviços fechar, mas mantêm uma farmácia e um farmacêutico em quem confiam? É preciso que saibamos capitalizar isso em prol da valorização dos farmacêuticos, mas também como forma de aliviar a pressão no SNS e de contribuir para o seu desenvolvimento a médio prazo, seja nos centros de saúde, nas urgências ou nos hospitais. Pouco a pouco estamos a fazer esse caminho. Seja em projetos-piloto como a dispensa de medicação hospitalar em comunidade, a possibilidade do farmacêutico aconselhar (e quem sabe, prescrever) em situações clínicas ligeiras, a possibilidade de renovar medicação crónica. Acredito que trabalhar na articulação entre estes elos “hospital – centro de saúde – farmácia – comunidade” é a chave para melhorarmos o acesso e qualidade dos serviços de saúde que prestamos à população.

O Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, no Porto, abriu uma cadeira de Introdução à Poesia para os alunos de Medicina. Esta cadeira é leccionada pelo médico e poeta João Luís Barreto Guimarães que considera que a poesia ajuda os estudantes a ligarem-se de forma holística aos doentes para que esta relação não se resuma a esquemas técnicos ou mecânicos. Este médico considera que, assim como os poemas, cada um dos seus pacientes é único e a sua história singular. Os estudantes de Ciências Farmacêuticas também poderiam beneficiar de uma cadeira literária ou de expressão dramática para preparar os futuros profissionais para lidar com os utentes nas farmácias, mas também com os colegas e os superiores hierárquicos nas empresas?

Sim! Faz muita falta. Podemos saber todos os mecanismos químicos, todas as moléculas, mas ter cadeiras que trabalham as nossas softskills são tão importantes. Dou o meu exemplo – sentia muita falta dessa vertente e num dos semestres em que tivemos cadeiras opcionais, inscrevi-me na Faculdade da Psicologia, na cadeira de psicologia da saúde e da doença. Aprender a compreender e a comunicar com doentes com doença crónica, com familiares, entre outros. Foi diferenciador e muito importante para o meu percurso. Isto para dizer que cadeiras fora da vertente mais “científica” do curso e, por isso, mais fora da caixa são igualmente importantes.

Não sabia dessa unidade curricular do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, mas dou-lhes os meus parabéns e espero que mais faculdades sigam o exemplo. Expandir horizontes e ter cadeiras literárias e de expressão dramática só vai contribuir para serem melhores profissionais. Cada vez mais as ligações humanas são desafiantes. Vai levar, sem dúvida a uma ligação mais saudável com utentes, colegas, superiores. Só vejo vantagens.

De que forma os currículos das faculdades de farmácia se deviam adaptar para dotar os futuros farmacêuticos de melhores instrumentos para responder aos desafios da longevidade, das patologias mentais, da desinformação, do acesso aos sistemas de saúde e das novas tecnologias?

Os currículos das faculdades de farmácia têm, a meu ver, de se adaptar para fazer face a todos esses desafios cada vez mais prementes no nosso quotidiano. Só assim conseguiremos que a classe farmacêutica acompanhe o desenvolvimento cada vez mais rápido do nosso mundo, garantindo que os farmacêuticos continuam a ter capacidade de enfrentar os desafios, de os superar, e de responder às necessidades de uma população, cada vez com maior acesso a informação (e nem sempre correta!). A área da inteligência artificial, por exemplo, é algo que devia ser abrangido nos currículos de forma a, cada vez mais, podermos transformar uma “ameaça” numa ferramenta útil para aumentar a nossa ação.

Aconselhava o curso de Ciências Farmacêuticas aos candidatos ao Ensino Superior?

Essa é uma questão pouco linear, mas sim, continuo confiante de que o curso de Ciências Farmacêuticas é um curso bastante completo e interessante. Não obstante, como já falámos, importa que se faça uma análise sobre a estrutura do curso, para que possa ser revisto e adaptado em algumas vertentes. Seria pertinente, por exemplo, explorar mais a fundo as várias possibilidades de saídas profissionais que o curso oferece, que muitas vezes só se conhece depois de concluir o mesmo.

A nível profissional, quais são os seus planos a médio prazo?

O meu plano é evoluir dentro do departamento médico. Ser Medical Advisor e estar responsável por projetos científicos de uma área terapêutica, ou trabalhar na área de estudos de geração de evidência de vida real.

E em termos teatrais, quais são os novos projectos?

Agora estou a trabalhar no musical final de ano letivo. Desafiante e trabalhoso, mas o que é a vida sem desafios? No futuro, depois de terminar o curso, gostava de criar uma companhia de teatro. Já estou ativamente a ‘influenciar’ pessoas para isso! Vamos ver. Sei que não quero deixar cair esta veia teatral.